Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
A percepção sobre estas regras se desdobra na concep-
ção sobre uma das especificidades da arqueologia: a formação
dos objetos. Um objeto se define como uma instância ordenada
por umprocesso no qual estas regras de formaçãomostramsigni-
ficativa importância. A natureza concreta destes objetos se mos-
tra a mais variada. Nas discussões empreendidas por Foucault,
a gramática, a economia ou a medicina afirmam-se todas como
objetos. Compreender as fronteiras entre eles, entender o limite
a partir do qual se separam uns dos outros se torna tarefa que
impõe uma metodologia específica.
Voltar-se para estes objetos permite compreender a
questão. Os envolvidos com cada uma destas tarefas, partici-
pantes dotados de um lugar específico nas atividades assim de-
finidas, possuem parâmetros destinados a indicar as fronteiras
daquilo que fazem. Cientistas, quando envolvidos em suas atri-
buições corriqueiras, supõem certos limites para seu campo de
conhecimento. Estas fronteiras se constituem de modo razoavel-
mente claro: a física possui balizas que a distinguem da quími-
ca, enquanto esta mantém também os seus, diferenciando-se em
relação a outras disciplinas. Contudo, não vão ser os parâmetros
produzidos por um grupo de indivíduos que auxiliarão a arqueo-
logia em sua delimitação de um objeto.
Se assim fosse, se poderia explicar a organização destas
disciplinas a partir dos critérios intrínsecos à própria atividade.
Ocorre exatamente o oposto. Na percepção que a arqueologia criti-
ca, seria possível crer que “descobrir” umnovo “avanço”, que pode-
ria conduzir a alguma “revolução”, consiste em observar por outro
ângulo certa realidade previamente existente. Assim, se poderia
substituir a resposta anterior, “errada”, por outra, “correta”, capaz
de explicar algo outrora difícil de compreender. Desta visada, se
iriam supor os atos dos sujeitos envolvidos como os responsáveis
pela formulação distinta da que anteriormente se havia presencia-
do. Contudo, não serão estas ações particulares as responsáveis
por permitir esta transformação. Na verdade, a alteração procede
a partir de novas combinações nas regras de formação.
A tentativa de deslocar a noção do “aprimoramento” de
um conhecimento dado a partir das “descobertas” de um sujeito
possui relevância de várias formas. Supor um dado conhecimen-
to como “superado” implica uma postura bastante específica.