Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
A possibilidade destas dispersões coexistirem, dotadas de esta-
bilidade, depende da ação do discurso.
Um segundo conjunto de temas decorre daí. Certa ex-
pectativa sobre a mídia esteve em compreendê-la a partir de
identidades, estabilidades constituídas em determinadas perio-
dizações. Estes instantes se constituiriam pela separação entre
momentos distintos, agregando categorias semelhantes, pressu-
pondo que qualquer diferença ou identidade residiria na contra-
posição entre certos períodos. Neste espírito, tende-se a sepa-
rar o audiovisual por “eras”, fases que se alternariam no tempo.
Teria existido uma “fase do
broadcast
” entre as décadas de 50 e
80, cedendo posteriormente espaço à televisão segmentada e,
daí, à convergência tecnológica contemporânea. Contudo, mais
produtivo se torna perceber que qualquer organização para o
audiovisual pressupõe superfícies em associação descontínua,
permitindo a existência, em diversos momentos, de aspectos
particulares. Não se trata de afirmar alguma frustrante impossibili-
dade de identificar formas e atribuí-las à imagem em movimen-
to: exatamente o contrário. Trata-se de indicar que a constitui-
ção do audiovisual contemporâneo depende não de algum traço
específico ao presente, ausente em períodos anteriores. Envolve
a convivência de marcas diversas, algumas delas presentes an-
tes mesmo da transposição do audiovisual para a internet. Sua
constituição implica não a condição de velho ou novo, mas o tipo
de ordenação obtida por múltiplos traços a partir de um diagra-
ma. A reestruturação da indústria cultural não ocorre pela divi-
são entre um “antes” e um “depois”, à espera do dia em que final-
mente se discernirão a interatividade dos canais de retorno ou
a construção de um coletivo inteligente. Apreender este limite
implica questionar uma visão sobre a história que se concentra
na oposição entre momentos antagônicos.
Após propor esta discussão sobre os processos de or-
denação dos objetos que constituem a realidade; sobre a organi-
zação da história; sobre a dissolução da centralidade do sujeito,
ao final desta exposição, surge a questão: afinal, em que termos
podem-se ordenar estes processos? Propõe-se que qualquer
configuração histórica reside em um plano bastante específico,
decididamente abstrato. Presume-se que a realidade possui re-