Table of Contents Table of Contents
Previous Page  126 / 346 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 126 / 346 Next Page
Page Background

Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo

gras de organização e que, a partir de movimentos localizados

no interior destas regras, constroem-se quaisquer ordenações.

Difícil pensar em termos de regras sem se remeter à

discussão que permitiu a este tema emergir com tamanha in-

fluência: o estruturalismo. Para esta visada, a questão central

residiu em entender a constituição da realidade como conse-

quência de relações subterrâneas, distantes da ingerência do

sujeito, reduzindo a importância da consciência. Tanto para o

estruturalismo quanto para a arqueologia, as regras se referem

não a leis no sentido que a ciência natural atribuiu à ideia: de-

terminações capazes de ditar a ação do homem do mesmo modo

que a gravidade coordena a queda de uma pedra. Uma lei estipu-

laria qual ação se deveria necessariamente tomar em qualquer

circunstância. Uma estrutura delimita as condições de possibili-

dade para se constituir a realidade. Os elementos responsáveis

pela ordenação do concreto são pensados nos homens, mas não

criados por eles. As categorias de pensamento se tornam pro-

dutos elaborados alhures, mas não pelo humano (PACE, 1992).

A arqueologia compartilha do interesse por este siste-

ma de regras, com ênfase distinta, contudo. Um dos pontos mais

relevantes em sua separação do estruturalismo reside no en-

tendimento de que pensar em termos de estruturas significa se

manter no âmbito da assim chamada episteme clássica. Aceitar

unilateralmente o tipo de análise oferecida pelo estruturalismo

implica raciocinar segundo uma lógica da representação. Frente

às dificuldades desta posição, a arqueologia introduz outra

concepção sobre regras, considerando seu sentido em direção

distinta. Regras se definem como uma prática, cuja ordenação

decorre de seu uso. Aqui, o interesse reside em compreender

seu emprego. Se a arqueologia se institui como um esforço para

apreender a constituição de realidade, apreender esta ordena-

ção recorre não a estruturas sincrônicas, mas procede no âmbito

da história. Por isso, interessa exatamente o movimento desta

história, na expectativa de compreender em quais termos cada

momento teve a oportunidade de se formar. Deste modo, regras

surgem como uma tessitura complexa, mantida pela ordena-

ção construída através dos múltiplos fios a partir dos quais se

sustenta.