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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

de parte o tratamento dos dados. A qualidade das informações

depende evidentemente do respeito às normas por parte dos

observadores. Contudo, para os programas que mobilizam os

amadores urbanos sem formação, os dispositivos de verificação

consultados (através de fotos) demonstram uma grande con-

fiança nos resultados (95% de identificação correta

20

). Quanto

à utilização dos dados, as informações são mais comumente uti-

lizadas para iniciativas individuais dos amadores (54% no caso

de Tela Botanica) que para emprego por cientistas (39%

21

).

Se alguns autores celebram as “ciências cidadãs” que

permitem ao grande público participar da elaboração do saber,

faz-se necessário reconhecer que a colaboração entre amado-

res e cientistas não é sempre fácil. O amador pode ser cortejado

pelo cientista na mesma medida em que é considerado mão de

obra abundante e gratuita, mas sobre ele recaem também sus-

peitas de incompetência. Contudo, a fronteira entre o amador e

o cientista nunca é muito nítida. Alguns amadores assumem-se

enquanto “amadores-especialistas” e, de certo modo, avançam

a ciência voluntariamente. Eles recebem os primeiros resulta-

dos científicos e são, assim, associados a todo o circuito científi-

co. Outros amadores, por outro lado, não desejam participar da

elaboração de um saber válido universalmente, mas desejam se

inscrever num contexto local, como o ambiente natural de seu

jardim ou do distrito que lhes interessa. O que esses saberes lo-

cais perdem em universalidade, eles podem obter com precisão

em torno da capacidade de descrição.

3.5 Criar uma

expertise

completamente nova

Os amadores que examinamos desenvolveram no do-

mínio de suas paixões um conhecimento limitado que, quando

é integrado e estruturado pelos profissionais, pode se tornar

um conhecimento legítimo. Porém, há também o caso em que os

20 Os arquivistas utilizam outro método de verificação dos dados cartoriais. Os

genealogistas amadores podem assinalar os erros de registro. Nesse caso os ar-

quivistas fazem a verificação e correção. Estima-se no departamento uma taxa

de erro de 0,7% (cf. BOUYÉ, op. cit.).

21 Estatísticas de Tela Botanica citadas por HEATON, Lorna; MILLERAND, Flo-

rence; PROULX, Serge. Tela Botanica, une fertilisation croisée des amateurs et

des professionnels.

Hermès

, n. 57, 2010.