Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
amadores tem um alcance limitado: eles não buscam particular-
mente intervir no debate público e, de tal forma, não têm o ob-
jetivo de se opor aos profissionais-especialistas, aos jornalistas
ou aos agentes políticos. As informações e as opiniões que eles
elaboram se destinam a uma comunidade restrita. O objetivo de
vários amadores consiste em utilizar a Internet como um espaço
autônomo de avaliação pessoal onde buscam testemunhar, argu-
mentar, discutir, não mais frente a frente com os amigos, mas es-
pecialmente com os desconhecidos e leigos: os “amigos da rede”.
Outros amadores, ao contrário, reivindicam sua posi-
ção de cidadãos interessados num evento ou numa questão es-
pecífica. Eles desejam contestar o discurso dos profissionais-es-
pecialistas que os ignoraram e não consideraram seu ponto de
vista: desejam denunciar os projetos políticos, tentar convencer,
apoiar uma causa. Estamos aqui no registro da solução dos pro-
blemas públicos, enquanto que os descritos acima estão no âm-
bito do testemunho e da sociabilidade. Esses dois registros de
intervenção constituem os dois grandes polos de expressão dos
amadores da política. O primeiro refere-se ao “espaço êxtimo”
26
,
ao movimento de expor o íntimo, enquanto que o segundo se
sobrepõe ao mais clássico espaço público.
4.2 O espaço êxtimo
Na sociedade contemporânea, as fronteiras entre o pú-
blico e o privado são cada vez menos nítidas. A emoção, o íntimo,
a paixão assumemumpapel crescente nas discussões públicas. A
fala privada havia sido amplamente difundida no espaço público
pelo rádio e a televisão
27
. De outro modo, a fala pública pode ser
percebida num espaço restrito, mas também mais vasto, mais
facilmente acessível. Ela pode se inscrever num registro pessoal
(o blog) ou dar lugar à discussão.
Vamos definir a noção de espaço êxtimo. Trata-se de
um espaço onde o enunciador se dirige a um número limitado
26 N. do T.: Flichy utiliza-se do termo
extime
para se opor à ideia de íntimo. Em
língua portuguesa, no campo da psicanálise, costuma-se traduzir a expressão
por êxtimo.
27 MEHL, Dominique. Le témoin, figure emblématique de l’espace public/privé. In:
CERAÏ, Daniel; PASQUIER, Dominique (org.).
Les Sens du public
:
Public poli-
tique, public médiatique. Paris: PUF, 2004, p. 489-502.