Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
diana. O indivíduo articula aí interesses distintos. Os fãs podem
difundir os frutos de sua recepção criativa e apresentá-los aos
profissionais que irão, às vezes, valorizá-los. Por sua vez, os ar-
tistas amadores apresentam suas produções, e os indivíduos po-
dem tornar atraente sua vida cotidiana. Portanto, as fronteiras
entre produção e recepção se evaporam, como entre o espetá-
culo e a vida.
3 Os saberes amadores
Eu gostaria de mostrar agora a fecundidade dos sabe-
res ordinários que não são organizados de acordo com os câno-
nes acadêmicos e que desenvolvem práticas originais, às vezes
refratárias, que estruturam a vida cotidiana. O desenvolvimento
desses saberes é facilitado pelo crescimento considerável das
competências de base adquiridas na escola e pela conexão à In-
ternet, que torna acessíveis múltiplos conhecimentos, frequen-
temente fragmentados e desestruturados, que, apesar disso, o
indivíduo organiza em função de sua experiência.
Tratarei inicialmente da experiência partilhada por to-
dos (saúde, ensino), logo de conhecimentos mais específicos de-
senvolvidos pelas paixões de algum sujeito e, enfim, dos conhe-
cimentos construídos coletivamente que podem resultar numa
nova participação cidadã.
3.1 O conhecimento comum: assumir a própria saúde
O conhecimento comum remete principalmente à re-
lação do indivíduo com seu corpo e com sua saúde. Diante de
uma dúvida sobre doença, a maior parte dos indivíduos consul-
ta a Internet. Assim, sete a cada dez franceses acessam sites de
informações médicas; 53% para se informar sobre uma doen-
ça que concerne a eles mesmos ou a seus próximos, 23% para
melhor compreender o diagnóstico do médico, 20% para ler o
testemunho de pessoas que possuem os mesmos sintomas
13
. Os
internautas frequentam fóruns onde se encontra alguma infor-
mação médica, explicada em termos simples pelas pessoas que
13 Fonte: Ipsos/Conseil national de l’ordre des médecins, 2010.