Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
desembocam em uma produção de informações e de opiniões
que têm importância. Modestas em aparência, elas se tornaram
indispensáveis à vida social e política” (FLICHY, 2010, p. 63, tra-
dução nossa).
Nesse sentido, os tradicionais polos significantes da
comunicação (produção e recepção) são apenas etapas, escalas
de um processo mais amplo e complexo. “Em vez de ver o movi-
mento como ‘entre’ dois lugares fixados de antemão (origem e
destino), será preciso considerar, ao contrário, os lugares como
‘entre dois movimentos’” (AMAR, 2011, p. 44, tradução nossa).
Assim, também a comunicação não é um “entre dois polos” (pro-
dução e recepção), mas sim a dinâmica de construção de sen-
tido em constante “movimento” de circulação. Um movimento
que se manifesta como
recursão, reorganização
e
regeneração
,
em que os produtos e sentidos “finais” produzem os (novos)
elementos “iniciais” ou “primeiros”, possibilitando a própria
geração e organização do circuito (cf. MORIN, 2008). Portanto,
mais do que um “fluxo” entre polos fixos, a circulação pode ser
entendida como a
dinâmica inerente a agentes em interação
, se-
jam eles instituições, coletivos, indivíduos, tecnologias, sentidos,
contextos, discursos, etc.) que inter-retroagem em suas ações
comunicacionais, seja em produção, seja em recepção. Ou seja,
uma “copresença de processos compartilhados” (BRAGA, 2013,
p. 164). Como nos casos aqui analisados, trata-se do encontro
entre “dois fluxos antagônicos [o das páginas e o dos usuários]
que, interagindo um sobre o outro, se entrecombinam em um
circuito que retroage enquanto todo sobre cada momento e cada
elemento do processo” (MORIN, 2008, p. 228).
A circulação, portanto, é o que relaciona e põe em mo-
vimento os agentes comunicantes, instituindo os próprios polos
(momentâneos) de produção e de recepção. Estes só existem
re-
ciprocamente
e
constituem-se mutuamente
graças à dinâmica da
circulação. Trata-se de uma rede complexa formada por intera-
ções sociais (não necessariamente harmônicas) sobre referências
simbólicas comuns (como o “católico”) em um mesmo ambiente
de ação (como o Facebook). Sendo um processo circulatório, co-
municação é aquilo que, mediante a
convergência da interação
,
desencadeia
divergência de senti
, mediante uma pluralidade de
agentes, discursos, meios, processos, lógicas, dinâmicas, contex-