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Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações

Dessa forma, para além do espaço público tradicional-

mente conceituado, gera-se um espaço público midiático, aber-

to e acessível, que permite “regular” a coisa pública – incluindo

também o religioso. Essa nova forma de tomada da palavra, polí-

tica e publicamente, forma uma rede de pontos de vista privados

para a definição de uma agenda pública, ou no mínimo coletiva,

sobre o “católico”. Mediante os rastros discursivos e imagéticos

deixados pelos usuários nas plataformas, as possibilidades de

expressão-percepção do “católico” em rede, embora praticadas

apenas por uma minoria estatística, são muito representativas

em termos qualitativos, pois apontam para o poder sociorreli-

gioso dos leigos-amadores que se sentem investidos de compe-

tências midiáticas e se apropriam do “católico” de forma pública.

Construindo uma “comunidade livre num espaço sim-

bólico”, cria-se, portanto, “um espaço público, um espaço de de-

liberação que, em última instância, se torna um espaço político”

(CASTELLS, 2013, p. 16). Esse espaço público-político é, na ver-

dade, “um espaço híbrido entre as redes sociais da internet e

o espaço urbano ocupado […] constituindo, tecnológica e cultu-

ralmente, comunidades instantâneas de prática transformado-

ra” (ibid., p. 16). Tendo em vista as repercussões sociais de tais

microações generalizadas em rede, gera-se uma democratização

de competências específicas de nível socioeclesial e teopolítico.

Assim, a circulação é também um processo coletivo,

que vai além da interação restrita entre um produtor e um re-

ceptor específicos, em que diversos saberes-fazeres-dizeres

circulam mediante a ação de vários agentes. “Minha interação

com os outros na vida cotidiana é […] constantemente afetada

por nossa participação comum no acervo social disponível do

conhecimento” (BERGER; LUCKMANN, 2012, p. 60). E essa par-

ticipação comum só é possível porque o conhecimento circula.

Mesmo que pensados subjetivamente, os sentidos são recons-

truídos intersubjetivamente, segundo determinadas lógicas e

dinâmicas do processo comunicacional. A circulação, portanto,

é um

dispositivo organizador da comunicação

, dando forma às

ações comunicativas e, portanto, às práticas sociais. Trata-se

do atributo central da comunicação, a “força motriz” dos gestos

comunicacionais.