Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
impulsionando, assim, a evolução do catolicismo – que não ne-
cessariamente pressupõe um salto de “qualidade”, seja teológica
ou eclesial, mas sim um
pr cesso de tr nsformação progressiva
e gradual
da concepção social do catolicismo, mediante a difu-
são e a ampliação dos saberes-fazeres a ele relacionados. O risco
seria de uma diluição total do catolicismo em uma disparida-
de incomensurável de sentidos, que o tornaria tudo e nada ao
mesmo tempo. Contudo, “a internet corrige a internet. No novo
mundo digital, o debate e a argumentação continuam sendo
as melhores armas contra a mediocridade e a má-fé” (FLICHY,
2010, p. 91). E é nessas disputas que o “católico” encontra as
suas especificidades.
Tal transformação é conjuntural, localizada em redes
específicas, encarnada em contextos particulares em que “indi-
víduos concretos e grupos de indivíduos servem como definido-
res da realidade”, dentro de uma “organização social que permite
aos definidores fazerem sua definição” (BERGER; LUCKMANN,
2012, p. 151). Contudo, é importante destacar que tal reconstru-
ção do “católico”, embora não diga respeito a toda a coletividade
social nem mesmo a toda a coletividade eclesial, se dá de for-
ma pública e pode ser
acessada e reconstruída publicamente
por
qualquer pessoa. Graças à mediação tecnológica e à apropriação
social, o “católico” torna-se
público e acessível
a qualquer pessoa.
Portanto, se, em períodos de predomínio da grande
imprensa, o Barão de Itararé (personagem satírico e humorís-
tico do jornalista Apparicio Torelly, 1895-1971) afirmava que “a
opinião pública é a opinião que se publica”, hoje, os dispositivos
digitais oferecem aos diversos leigos-amadores “instrumentos
culturais coletivos que lhes permitem melhor se apropriar dos
novos universos culturais” (FLICHY, 2010, p. 34), em uma
ekkle-
sia
(assembleia) a céu aberto. Graças a isso, os leigos-amadores
podem pôr em evidência efeitos inesperados do catolicismo, fa-
zendo emergir problemas teológicos imprevistos e abrindo bre-
chas eclesiais.
Em suma, a prática do leigo-amador na era digital faz
“com que o expert-especialista [o clérigo, o teólogo oficial] des-
ça do seu pedestal, rejeita que ele monopolize os debates pú-
blicos, utiliza o seu talento ou a sua competência como um ins-
trumento de poder. Em definitivo, ele contribui para democra-