Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
da Igreja Católica” na economia dessas inter-relações de senti-
do. E o papel do leitor também se modifica dentro da cultura
amadora digital. Ele pode não apenas acessar e comentar a foto
do papa, mas também tomar distância diante da autoridade do
especialista (como o PCCS) ou do leigo-amador (como a página
Catecismo
). Assim, ele coproduz os sentidos, sem substituir o es-
pecialista, nem o mediador direto, mas
com eles
.
A partir de um percurso autônomo, coletivo e público
de aquisição de competências e conhecimentos teoeclesiológi-
cos, o leigo-amador (seja produtor, seja comentarista, seja lei-
tor) amplia seus saberes religiosos mediante a experiência de
suas práticas sociocomunicacionais, para além das autoridades
e dos especialistas tradicionais.
Assim como a democracia política dá o poder a ci-
dadãos amplamente ignorantes da coisa pública,
assim também a nova democratização se apoia em
indivíduos que, graças ao seu nível de educação
e aos novos instrumentos da informática, podem
adquirir competências fundamentais no quadro
dos seus lazeres. Dependendo do caso, essas com-
petências permitem dialogar com os especialistas,
e até mesmo contradizê-los no desenvolvimento
de
contra-expertises
(FLICHY, 2010, p. 9, tradução
nossa).
Portanto, pode-se dizer que a prática amadora é marca-
da por práticas de bricolagem. O leigo-amador faz uma bricola-
gem “com e na economia cultural dominante, usando inúmeras
e infinitesimais metamorfoses [...], segundo seus interesses pró-
prios e suas próprias regras” (CERTEAU, 2012, p. 40). Ou seja,
mediante essas microrreconstruções públicas de elementos
do catolicismo em rede, manifestam-se diversas práticas pelas
quais os usuários se reapropriam do espaço teológico organiza-
do pelas técnicas da produção sociorreligiosa, por meio de uma
“multiplicidade de ‘táticas’ articuladas” (ibid., p. 41).
Percebe-se que a multiplicidade dos discursos e das
formas de debate online pode “explodir” o espaço religioso tra-
dicional, fragmentando-o em pequenos espaços homogêneos,
“bolhas” de interesse, em que a variedade de pontos de vista se