Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
Saberes, fazeres e dizeres do catolicismo passam a ser
reconstruídos para além do controle eclesial institucional. E, na
ação dos leigos-amadores, não se trata de encontrar “consensos”
simbólicos, teológicos ou pragmáticos, ao contrário: cada ima-
gem ou comentário postados, cada “curtida”, cada compartilha-
mento torna-se o desencadeador de novas produções de senti-
do sobre o “católico”, construindo as mais diversas identidades
(individuais e coletivas), reconhecendo as mais diversas autori-
dades (as várias relações de poder teopolítico) e constituindo
as mais diversas comunidades (os diversos níveis de interação
socioeclesial). Em redes digitais, portanto, o “católico” reúne as
mais diversas manifestações sobre o catolicismo, em diversos
microuniversos de sentido públicos, múltiplos, heterogêneos,
contraditórios. Como um macrouniverso simbólico, o “católico”
é “a matriz de todos os significados socialmente objetivados e
subjetivamente reais” (BERGER; LUCKMANN, 2012, p. 127) so-
bre o catolicismo que são reconstruídos nas redes digitais pelos
leigos-amadores.
Assim, o leigo-amador é um indivíduo que opera uma
contínua reconstrução simbólica do “católico” em termos de
identidade, de comunidade e também de autoridade. Pela ação
dos leigos-amadores, as crenças e as práticas do catolicismo
tornam-se, então, vulgarizadas e partilhadas publicamente, em
nível simbólico-discursivo. Saberes, fazeres e dizeres do catoli-
cismo passam a ser reconstruídos para além do controle eclesial
institucional. Aí se manifesta um processo circulatório, pois tanto a
produção de sentido eclesial institucional quanto os rastros de
um usuário individual sobre o “católico” no ambiente digital são
a base de produção para rastros outros, produzidos por outros
usuários a partir dos rastros primeiros. “Um determinado dis-
curso em circulação na sociedade produzirá uma multiplicidade
de efeitos, uma vez que tal estratégia vai lidar com uma exis-
tência e multiplicidade de outros discursos” (FAUSTO NETO,
2007, p. 23). E essa
reconstrução
– construção e/ou descons-
trução – de construtos católicos se dá de forma pública, fora do
controle simbólico da instituição eclesial, em rede, reunindo os
mais diversos agentes, sejam eles especialistas (clérigos autori-
zados) ou amadores (leigos) do “católico”. “As práticas amadoras