Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
sociais tradicionalmente estabelecidos, com o avanço da midia-
tização digital, deparam-se com novas práticas sociais que vão
se estabelecendo a partir das conexões, inexistentes segundo
os protocolos e interfaces disponíveis nas mídias anteriores, de
nível social, tecnológico e simbólico. O ambiente digital gera os
seus usuários específicos, convidando-os a fazer determinadas
coisas (“comentar”, “curtir”, “compartilhar”, etc.) e a não fazer
determinadas outras (como indicam as limitações e sanções de
cada plataforma digital). Assim, “a mudança do ambiente comu-
nicacional afeta diretamente as normas de construção de signifi-
cado e, portanto, a produção de relações de poder” na sociedade
(CASTELLS, 2013, p. 11).
Na tênue linha entre o possível e o proibido, entre a
autonomia e o controle, manifesta-se a ação de usuários ativos
e criativos, que, excedendo ou subvertendo as possíveis limita-
ções tecnológicas ou institucionais à construção simbólica e à
interação, geram desvios e desdobramentos não previstos pelos
sistemas tecnossimbólicos (interfaces e protocolos). A autono-
mia se soma à conectivização.
Desse modo, o desdobramento da midiatização digital
leva a uma expansão tanto do alcance quanto da abrangência
dos meios de interação social. O digital não abole a separação
entre amadores e profissionais, mas associa os indivíduos em
uma mesma plataforma, qualquer que seja o seu status. Existe
hoje
a produção de opiniões e a participação em novas
ágoras […]. O amador da coisa pública é um cida-
dão que quer se informar por conta própria, ex-
pressar abertamente a sua opinião, desenvolver
novos modos de engajamento. Ele desconfia dos
experts-especialistas e não deposita sempre a sua
confiança nos representantes que ele contribuiu
para eleger. Estamos no coração da democracia de
interação (FLICHY, 2010, p. 43, tradução nossa).
A interação social hoje, portanto, dispensa o pertenci-
mento ou a participação em uma organização social estruturada.
A ação social contemporânea “é geralmente coordenada segun-
do um modo reticular” e autônomo (FLICHY, 2010, p. 61, tradu-