Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
ção nossa), mas que, ao mesmo tempo, é regulado e controlado
pelos sistemas digitais. “Encontramos aí um paradoxo caracte-
rístico da era digital: a autonomia não se opõe forçosamente ao
controle” (FLICHY, 2010, p. 62, tradução nossa).
Por outro lado, a midiatização digital facilita o acesso
da sociedade aos meios de acesso, produção e transmissão de
informações. As diversas opiniões da sociedade em rede, por
sua vez, são disponibilizadas por um sistema informático que as
agrega e as torna disponíveis. Flichy (2010, p. 16, tradução nos-
sa) chama essa atividade de “intermediação” ou “infomediação”,
e afirma que ela “repousa sobre um dispositivo sociotécnico do
qual os internautas são apenas uma parte. Por isso, não se deve
falar de abolição da mediação, mas sim de transformação: ela
se apoia agora no instrumento digital, e os mediadores sempre
têm uma atividade de seleção”. O que chama a atenção nesse
processo é que a midiatização digital, impulsionada por inova-
ções tecnológicas, possibilita a constituição de novas práticas
sociais de construção de saberes na ausência de toda formação
prévia específica desses saberes. A construção do religioso em
rede, hoje, por exemplo, dispensa qualquer formação teológica:
basta ter acesso ao meio e dominar basicamente as interfaces e
os protocolos, e o usuário já dispõe de tudo o que é necessário
para “teologizar” publicamente. A midiatização digital, assim,
“permite acima de tudo pôr-se imediatamente em uma situação
de criação” (FLICHY, 2010, p. 21, tradução nossa).
As ciências sociais clássicas abordaram o conceito de
“debatepúblico” entendendo-o como “umadiscussão aberta, aces-
sível a todos, em que se dá a troca de argumentos racionais a fim
de encontrar um consenso” (FLICHY, 2010, p. 44, tradução nossa).
Contudo, a midiatização digital aponta para uma nova relação en-
tre as opiniões “privadas” e as opiniões “públicas”. “Público” aqui
não diz respeito aos assuntos de interesse geral da coletividade
e às grandes questões sociais, mas sim àquilo que está à dispo-
sição de mais de um, a muitos ou a todos: em suma, ao que
pode
ser acessado por qualquer pessoa
. Em certos ambientes digitais,
o debate se dá entre um pequeno número de pessoas, mas o re-
levante é que, graças à mediação tecnológica, esse microdebate
pode ganhar relevância e repercussão mundial por ser
público e,
portanto, acessível a qualquer pessoa
. Ou seja, “de um lado, a ex-