Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
“A web é, com efeito, um dispositivo perfeitamen-
te adaptado a comunidades que estão dispersas pelo mundo
inteiro. A internet e os instrumentos da informática oferecem
[a toda a sociedade] instrumentos culturais coletivos que lhes
permitem se apropriar melhor dos novos universos culturais”
(FLICHY, 2010, p. 34, tradução nossa). O fenômeno da midiati-
zação digital fomenta a formação de comunidades específicas,
conectadas em redes tecnológicas, a partir de convenções locais,
seja sobre os conteúdos a serem abordados, seja sobre as pró-
prias modalidades de interação. A interação entre indivíduos,
coletivos e instituições de origens diversas se estabelece a partir
de microuniversos de sentido, de aprendizagem e de comparti-
lhamento de experiências locais. Tais protocolos se constituem
sobre plataformas técnicas que moldam, sem definir, as intera-
ções, ou seja, interfaces sobre as quais é possível a construção
discursiva pública e em rede.
Nos processos da midiatização digital, entram em jogo,
portanto, uma
multimodalidade tecnológica
(com o surgimento
de novas modalidades de comunicar) e um
empoderamento so-
cial
(instituições, coletivos e indivíduos, habilitados por essas
tecnologias, desenvolvem novas formas e novos modos de se re-
lacionar e comunicar) (cf. AMAR, 2011).
O incremento da autonomia individual e o cruza-
mento entre atividades profissionais e atividades
privadas foram acompanhados por um instru-
mento maior: a informática. De um lado, as tec-
nologias digitais foram profundamente marcadas
pelos comportamentos de autonomia individual
e de ‘conectivização’ [
mise en connexion
]. De ou-
tro lado, elas forneceram instrumentos essenciais
para o desenvolvimento de novas práticas sociais
(FLICHY, 2010, p. 14-15, tradução nossa).
Essas novas práticas sociais na internet se dão a partir
de pressupostos anteriores ainda ao acesso: indivíduos, coleti-
vos e instituições só se fazem presentes nas redes digitais por
desejos e necessidades anteriores, trazendo consigo as especi-
ficidades e particularidades de determinados campos e práticas
sociais, como no caso do âmbito religioso. Por isso, os campos