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Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações

dade aos meios digitais, à publicização de informações e à demo-

cratização do polo de produção simbólica, os amadores em rede

adquirem e desenvolvem saberes-fazeres reticularmente, para

além do papel desempenhado pelos especialistas tradicionais.

Os mais diversos coletivos amadores que se formam em rede

também permitem “obter opiniões, conselhos e expertises, con-

frontar julgamentos, debater e, às vezes, encontrar um público”,

razão pela qual o amador conectado “pode não somente adquirir

competências, mas também colocá-las em prática sob diversas

formas” (FLICHY, 2010, p. 11, tradução nossa).

No caso religioso, não se trata apenas de umamador, mas

também de um “leigo”, ou seja, de alguém não revestido pela ofi-

cialidade e pela institucionalidade religiosas – ou, se investido de

tais competências, alguém que age em rede deliberadamente des-

provido de tais qualificações. O que distingue o “leigo-amador” do

clérigo-profissional é “outra forma de engajamento nas práticas

sociais. Suas atividades não dependem do constrangimento [...] de

uma instituição, mas sim da sua escolha. Ele é guiado pela curiosi-

dade, pela emoção, pela paixão, pelo apego a práticas muitas vezes

compartilhadas comoutros” (FLICHY, 2010, p. 12, tradução nossa).

Graças à ação social desempenhada pelo leigo-amador,

os saberes específicos do campo religioso, antes restritos aos

iniciados, passam a ser disponibilizados como informação pú-

blica, passam a ser “vulgarizados”, “secularizados”, “profanados”.

Conectam-se em redes diversas, criando novos conhecimentos

específicos. Esses discursos locais (mas também globais, ao se-

rem publicizados) geram desdobramentos e desvios na prática

religiosa, seja ela midiática ou não.

Mesmo os espaços institucionais online do campo re-

ligioso (como páginas e sites de instituições religiosas) tornam-

-se campos de reconstrução e disputas de sentidos sobre o “re-

ligioso”, em que a instituição eclesial não consegue deter o fluxo

simbólico – nem o seu próprio, que é sempre ressignificado na

interação em rede, muito menos o discurso amador sobre a ins-

tituição –, não podendo mais assumir o papel clássico de “me-

diadora”. A instituição apenas controla e gere os discursos nos

domínios de seu alcance, na tentativa de organizar e condicionar

a produção de sentido dos leigos-amadores conectados, embora

também com limitações, já que as interfaces e os protocolos não