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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

to do campo jornalístico, contaminando-o com informações im-

precisas que acabam ganhando a chancela do especialista.

Tendo a “morte” como valor-notícia associado a uma

disrupção na ordem natural das coisas, o campo jornalístico

sempre se ocupou do tema, principalmente quando associado ao

falecimento de figuras públicas e midiáticas. Aquilo que emerge

da mídia tradicional em torno desses “falecimentos midiáticos”,

contudo, vem sendo ressignificado por uma cadeia produtiva

tangencial, posta em circulação por um conjunto de amadores

que, valendo-se do lugar que ocupam nas redes sociais, atuali-

zam, desfiguram, complementam ou banalizam os enunciados

proferidos pela instância midiática jornalística.

Objeto sinergético, portanto, a morte aciona interações,

vínculos e ritualizações via redes sociais, o que amplia e ressig-

nifica a cadeia de sentidos mobilizada pela mídia convencional.

Desobrigados de atender a critérios editoriais e mercadológicos

que poderiam condicionar o teor das narrativas – como acon-

tece com os profissionais do campo jornalístico –, os amadores

que circulam pelas infovias computacionais apropriam-se do

Twitter enquanto dispositivo de expressão de si mesmos, dos

seus gostos e predileções, assim como espaço de crítica, comen-

tário e replicação da narrativa jornalística.

Embora o circuito produtivo e cultural dos amadores

seja, pelo menos aparentemente, distanciado do circuito produ-

tivo e cultural dos profissionais, no ambiente digital esses dois

indivíduos estão, metaforicamente, disputando a atenção de ou-

tros leitores em situação de simetria, apesar de arraigados a ló-

gicas, rotinas e temporalidades produtivas dissonantes.

Ao escreverem para informar, caluniar, satisfazer um

desejo ou criticar/complementar/apoiar comentários de tercei-

ros, os internautas desenvolvem práticas libertadoras de recep-

ção. Mesmo quando agendados pela mídia tradicional, desviam,

prolongam, questionam e complementam essas informações

tendo como horizonte a sua rede de contatos. Isso faz pensar a

internet como articuladora de uma comunidade em que os seus

participantes são convocados a se manifestar, fenômeno que põe

em xeque a exclusividade enunciativa do especialista e torna

transparentes experiências de genialidade, bem como de medio-

cridade intelectual. Segundo Henry Jenkis (2009, p. 43), autor