Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
Os tensionamentos emanados de uma discursividade
jornalística e outra social podem ser explicados, num primeiro
momento, como consequência de lógicas “produtivas” disso-
nantes. Enquanto o jornalista cumpre uma vocação social expli-
citamente atrelada a regras mercadológicas e redacionais que
circunscrevem o sentido da sua narrativa, os usuários amado-
res das redes sociais – em muitos casos protegidos por falsas
identidades – projetam em cena discursos de natureza variada,
sóbrios e imprecisos, geralmente pouco aptos ao equilíbrio em
relação ao conjunto de sentidos enunciados. Segundo o pesqui-
sador Muniz Sodré (2012, p. 23), a circulação de informações em
tempo real e em fluxo contínuo possibilitada pela internet diluiu
o controle da corporação jornalística “sobre o produto básico do
discurso jornalístico”.
Na avaliação do pesquisador Fausto Neto (2013, p.
57), “a supressão da instância mediadora significa optar pelos
ventos das ‘plataformas circulatórias’ e o da arquitetura comu-
nicacional, na qual se dá a comunicação de ‘todos para todos’”.
Considerando que os processos discursivos operados no âmbito
da produção e da recepção funcionam através do acionamento
de lógicas e gramáticas específicas, explica Fausto Neto (2013,
p. 55), “a circulação seria assim uma instância geradora de uma
‘desarticulação’ entre produção e recepção caracterizada por in-
completudes e divergências”.
Nestes termos, pode-se inferir que a incidência do ator
social distanciado do “fazer jornalístico” na órbita de produções
de sentidos midiáticos é fonte geradora de incertezas e indeter-
minações, exigindo a demarcação de um processo adaptativo
complexo entre sistemas de inteligibilidades (jornalísticos e so-
ciais) que operam sob perspectivas e deontologias específicas
(FERREIRA, 2016).
A projeção da audiência à condição de cogestor enun-
ciativo, nestes termos, gerou uma crise da mediação e um mo-
vimento de exacerbação da agenda social. Houve, a partir da
emergência dos trânsitos multidirecionais acoplados à internet,
uma reestruturação das relações de força em termos comunica-
cionais, sendo os internautas/amadores “autorizados” a produ-
zir conteúdos, a comentar as notícias do dia, a replicar o conteú-
do jornalístico e a agendar as mídias tradicionais, detentoras de