Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
constitutivos na medida em que permite interposições de sub-
jetividades discursivas que, na sociedade dos meios, não conta-
vam com tecnologias adequadas para a sua expressão para além
de contextos presenciais reduzidos. Atualmente, destaca o autor,
“todos podem deixar um rastro de si” nas redes, espaço esse di-
recionado à conversação, ao estabelecimento de laços sociais e à
construção permanente de discursos sempre inacabados.
Na perspectiva do pesquisador francês, o uso do com-
putador como instrumento de base para a experimentação ama-
dora vem possibilitando a aquisição de competências especiali-
zadas gestadas de forma autodidata que, mesmo distanciadas da
lógica que rege a economia de mercado, tensionam as fronteiras
entre o que chama de “expert” e o “expert por baixo”. Segundo
Flichy (2013), a produção amadora que circula em rede permi-
te a passagem de um saber abstrato para um saber vivenciado,
gerando relações tecidas pela partilha de experiências comuns.
Situando-se num lugar de crítica veemente à cultura do
amador, Andrew Keen (2009) defende a premissa de que a in-
ternet se tornou uma espécie de espelho da sociedade, um lugar
no qual as pessoas não buscam notícias, informações ou cultura,
mas tornam-se elas próprias a notícia, a informação e a cultura,
minimizando, assim, a autoridade e o próprio lugar do especia-
lista. Em analogia ao ensaio “A biblioteca de Babel”, do escritor
argentino Jorge Luis Borges, Keen argumenta que a internet se
converteu num lugar ambíguo, desprovido de parâmetros claros
entre mentira e verdade, certo e errado. “É um lugar onde a ver-
dade é seletiva e está constantemente sujeita à mudança. A ex-
periência de surfar na internet é análoga à de perambular pelas
galerias hexagonais da biblioteca de Babel de Borges. A verdade
é alusiva, sempre a um clique ou a um site de distância” (KEEN,
2009, p. 82). Em contraposição à premissa de Keen, Flichy (2013)
argumenta que, apesar de a internet oferecer protagonismo a
amadores com distintos níveis de competência, o software livre
é um exemplo de projeto colaborativo que, justamente por con-
ciliar muitas mentes pensantes, produz resultados mais qualifi-
cados. Segundo o autor, a emergência do amador, em áreas tão
diversas quanto a ciência, a culinária, a arte e o jornalismo, esta-
belece, de fato, um fenômeno de arrefecimento do lugar do espe-