Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
um discurso socialmente “legitimado”. Materializados via redes
sociais, entre elas o Twitter, os discursos emanados dos inter-
nautas ganharam a dimensão do que poderíamos chamar de
um “discurso de sistema”, operacionalizado através de lógicas e
características de mídia. Nesse sentido, a internet apresenta-se
sob a forma de um desenho macrointerativo, operando sentidos
numa sociedade midiatizada na qual se verifica um processo
crescente de diversificação e complexidade de materiais postos
em circulação, assim como um fenômeno crescente de geração
de circuitos distanciados do controle da grande mídia. Segundo
o pesquisador Jairo Ferreira (2016, p. 136), os processos de mi-
diatização comportam a autonomização dos processos de circu-
lação, “que retroagem sobre os processos sociais (atores, cam-
pos transversais e campos institucionais), produzindo transfor-
mações na esfera da cultura, da economia e da política”.
É notório, porém, que as informações veiculadas pela
imprensa convencional ainda representam um dos “nós” mais
populares da rede e, consequentemente, mais replicados. Isso
significa dizer que os conglomerados midiáticos ainda ocupam
lugar de centralidade no agendamento em torno daquilo que cir-
cula nas mídias socais, na medida em que a vocação do seu tra-
balho é informar e na medida em que o trabalho do amador, que
tensiona a prática jornalística, por vezes permanece opacizado
enquanto competência não reconhecida. Estabelece-se, aqui,
uma dicotomia entre um discurso legítimo e outro posto em si-
tuação de suspeita, embora se saiba que ambas as instâncias –
jornalística e amadora – podem ser fonte tanto de informação
credível quanto de informação inconsistente.
Contudo, mesmo que a produção emanada do campo
jornalístico formalmente constituído ainda ocupe um lugar de
referência, há casos em que o cerne desencadeador de intera-
ções em torno de conteúdos noticiosos em rede são postagens
originadas pelos próprios usuários/amadores que, à revelia do
campo jornalístico, instauram sua própria cadeia semiótica em
relação a temas por eles considerados relevantes. Em casos mais
extremos, sublinha Keen (2009, p. 80), conteúdos produzidos
por amadores e desprovidos de qualquer nexo com a realidade
são “legitimados e propagados por canais de mídia convencio-
nal”. Nesse sentido, o circuito das redes tensiona o funcionamen-