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Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações

tos constitutivos da identidade e da integração de grupos, uma

vez que é aceito e compartilhado coletivamente, dá sentido e or-

ganiza as práticas sociais. Em um esforço para entender o ima-

ginário social tecnológico, Flichy (2001) aponta quatro carac-

terísticas principais: 1. Os suportes do imaginário social atual-

mente, mais do que o discurso filosófico, as construções teóricas

ou os mitos, estão fortemente ligados à produção midiática. 2.

O imaginário não é destinado às elites ou aos

experts

, mas aos

indivíduos de uma cultura comum. 3. O imaginário contemporâ-

neo é coletivo; diferentemente de um imaginário romântico do

século XIX, ele tem como principal função a construção de uma

compreensão de mundo compartilhada. 4. O imaginário não se

constitui de um delírio, mas é parte importante das práticas que

constituem a realidade social.

Uma das questões-chaves do trabalho de Flichy (2001)

consiste em analisar de que maneira o imaginário tecnológico se

articula com os processos midiáticos, horizonte de nossas preo-

cupações neste texto. Os dois caminhos oferecidos pelo autor se-

riam estudar como diferentes atores conseguem se envolver no

processo de inovação de ummesmo aparato técnico e investigar

quais são os usos sociais que fomentam o desenvolvimento de

uma nova tecnologia. Neste sentido, proponho introduzir na dis-

cussão o conceito de “tecnocultura”, por se tratar de uma noção

de cultura que compreende a pregnância das tecnologias para

a constituição da substância cultural de nosso tempo. Torna-se,

assim, relevante pensar a relação das mídias com o imaginá-

rio, uma vez que a midiatização parece constituir a ambiência

na qual o imaginário contemporâneo mais prospera e onde ga-

nha mais visibilidade. Neste sentido, o “imaginário tecnológico”

descrito por Flichy (2001) pode ser considerado essencialmen-

te como um “imaginário tecnocultural”, visto ser a tecnocultu-

ra, simultaneamente, matéria-prima, processo e produto desse

imaginário. Cultura é palavra fácil nos textos que versam sobre os

“novos meios de comunicação” e que, via de regra, visam a um

entendimento da comunicação midiática que transcende suas

dimensões técnicas e a coloca como vetor cultural da socieda-

de contemporânea. Ganha relevância neste contexto a noção de

uma cultura contemporânea midiatizada ou ainda da emergên-