Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
muitas vezes colocou em debate os discursos de projetistas e
usuários. Sabemos que as técnicas de comunicação digital não
garantem, por si mesmas, as condições necessárias para o fun-
cionamento de uma “sociedade em rede”, termo amplamente
trabalhado por Castells (2007) e que prolifera no campo da co-
municação. As dimensões econômicas, políticas e culturais con-
figuram-se como extremamente importantes para a consolida-
ção dos usos dos meios antes de se configurarem como práticas
sociais. Há uma defasagem entre usos e práticas que deve ser
levada em consideração.
O uso das chamadas tecnologias da informação e co-
municação (TIC) como espaços colaborativos em
blogs
,
chats
,
redes de relacionamento, etc., se estabelece como prática social
a partir do momento em que há certa estabilidade ao longo do
tempo, com um certo número de praticantes. A ação comuni-
cativa individual ou de pequenos grupos não se constitui como
novidade na medida em que uma “generalização das relações
públicas” (MIÈGE, 2009) vem sendo tecida desde os anos 1970.
O que as TIC proporcionaram foi uma amplificação desta indi-
vidualização. Segundo Miège (2009), uma boa parte dos usuá-
rios se apropriam dos aperfeiçoamentos técnicos para construir
“comunidades virtuais” que, via de regra, não têm um fim social
stricto sensu,
mas estão constituídas em torno de alguns interes-
ses de grupos específicos.
Neste sentido, parece-nos singular o que aconteceu du-
rante os protestos no Brasil em junho de 2013. Através da aná-
lise de alguns materiais que circularam pela internet durante
aquele período, encontramos fragmentos de formas tentativas
de organização política dos cidadãos nas quais as performan-
ces simbólicas de protestos nas ruas, a construção de sentidos
nas redes da
web
e as ações efetivas de ataques cibernéticos
de
hackers
às instituições convergem para a ocupação tanto do
espaço físico urbano, quanto de uma nova ambiência midiática
(GOMES, 2010). Esta ambiência pode ser entendida como a are-
na de inteligibilidade dos discursos (FAUSTO NETO, 2006) em
uma sociedade em processo de midiatização. É perceptível, atra-
vés dos fragmentos coletados, que houve um grande interesse
dos atores no uso e na apropriação dos “dispositivos midiáticos”
(FERREIRA, 2006) para tecer um debate público sobre as ques-