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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

dos acontecimentos fundadores reforça a memória coletiva e

amalgama uma imagem estável e consensual de comunidade na

qual a ideologia teria a função de integração. Neste último nível,

a utopia teria a função de explorar mundos possíveis que ofere-

ceriam caminhos criativos novos e igualmente legítimos como

vetores de mudanças sociais.

A partir das elaborações de Ricoeur (1997), Flichy

(2001) propõe um modelo próprio de análise da dinâmica ideo-

logia/utopia aplicado a questões de tecnologia (que não es-

tavam incluídas nas preocupações de Ricoeur). Não teríamos

como desenvolver aqui, com a devida profundidade, o sistema

conceitual de Flichy, mas caberia sintetizar sua noção sobre

os processos sociais relacionados ao desenvolvimento de uma

nova tecnologia.

Segundo Flichy, inicialmente há uma “utopia de ruptu-

ra”, na qual se propõe um novo uso para determinada tecnologia.

Em um segundo momento, haveria uma “utopia de projeto”, em

que um grupo de pessoas vai tentar desenvolver a ideia inicial.

E, em uma terceira etapa, aparece a “utopia fantasmagórica”, que

consiste em atribuir usos muito além da capacidade de realiza-

ção das tecnologias. Na passagem entre a utopia e a ideologia

temos o que Flichy chama de “objeto fronteira”, que reuniria os

interesses de múltiplos atores em torno da mesma tecnologia.

As experiências com o objeto fronteira levam à dimensão da

ideologia que, em um primeiro momento, apresenta-se como

“ideologia máscara”, assim denominada por Flichy por apresen-

tar a característica de encobrir certas realidades sociais. Em se-

guida, passa-se à “ideologia legitimante”, na qual a ideologia le-

gitima uma solução tecnológica que se impõe como necessidade.

Em um último nível, encontramos a “ideologia da mobilização”,

na qual os diversos atores são mobilizados ao uso da tecnologia

desenvolvida. Flichy (2001) afirma que se trata de um processo

cíclico em que uma nova utopia de ruptura surge sempre que

uma solução tecnológica se opõe às soluções anteriores. Estes

seis tipos de discursos dialéticos (ideologia/utopia) são usados

conceitualmente para separar as diferentes funções do imaginá-

rio, mas na prática eles coexistem ao mesmo tempo.

Seguindo esta linha de raciocínio, o imaginário social

apresenta-se como alternativa que permite explorar os elemen-