Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
das TIC. No escopo de nossa proposta de trabalho, questiona-
mo-nos: como o imaginário tecnocultural organiza o discurso
que permite uma ação política de cidadão através da expansão
da comunicação mediada por computador (
peer-to-peer
), poten-
cializando novas formas, tentativas, de resistência contra-hege-
mônicas? Uma resposta a esta pergunta nos possibilitaria com-
preender as potencialidades de uma apropriação mais crítica
das mídias em prol de uma cidadania efetiva e emancipadora.
Para tal empreendimento, analisamos a circulação de
materiais relativos aos protestos encontrados na internet, pro-
curando fragmentos que nos mostrem a flagrante dicotomia
tanto da interação entre os manifestantes e seus simpatizantes
(encontrada principalmente nas redes de relacionamento, pla-
taformas de compartilhamento,
blogs
e
websites
mantidos por
amadores) quanto da visão institucional de governos, academia
e mídia corporativa (vistas em portais de jornalismo tradicio-
nal), procurando entender a complexidade das disputas simbó-
licas e da construção dos sentidos que têm como pano de fundo
o imaginário tecnocultural contemporâneo. Neste sentido, po-
deríamos dizer que a resistência nos protestos do Brasil se orga-
nizou em duas frentes principais que se inter-relacionam: uma
socioantropológica, operacionalizada pelos milhares de pessoas
que saíram às ruas, e uma sociotécnica, que consistiu na mobili-
zação através da
web
. De um lado, os atores sociais protestaram
com seus corpos ocupando o espaço urbano, portando cartazes
commúltiplas reivindicações, gritando palavras de ordem, orga-
nizando-se em blocos e resistindo à repressão policial. De outro,
milhões de usuários da internet interagiram nas redes de rela-
cionamento, trocaram informações sobre os motivos do protes-
to, produziram materiais de divulgação das ideias em suas pági-
nas pessoais e plataformas de compartilhamento, criando uma
teia midiática alternativa para noticiar os acontecimentos, e gru-
pos de
hackers
atuavam na invasão de sistemas governamentais
e de grandes grupos de comunicação, postando mensagens em
convergência com os protestos das ruas e divulgando informa-
ções sigilosas que fomentaram ainda mais o movimento.
No que tange à dimensão sociotécnica dos protestos,
há indícios das “três formas do agir político nas mídias digitais”
(nos termos de PROULX, 2012) ocorrendo simultaneamente. A