Table of Contents Table of Contents
Previous Page  191 / 284 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 191 / 284 Next Page
Page Background

Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

das TIC. No escopo de nossa proposta de trabalho, questiona-

mo-nos: como o imaginário tecnocultural organiza o discurso

que permite uma ação política de cidadão através da expansão

da comunicação mediada por computador (

peer-to-peer

), poten-

cializando novas formas, tentativas, de resistência contra-hege-

mônicas? Uma resposta a esta pergunta nos possibilitaria com-

preender as potencialidades de uma apropriação mais crítica

das mídias em prol de uma cidadania efetiva e emancipadora.

Para tal empreendimento, analisamos a circulação de

materiais relativos aos protestos encontrados na internet, pro-

curando fragmentos que nos mostrem a flagrante dicotomia

tanto da interação entre os manifestantes e seus simpatizantes

(encontrada principalmente nas redes de relacionamento, pla-

taformas de compartilhamento,

blogs

e

websites

mantidos por

amadores) quanto da visão institucional de governos, academia

e mídia corporativa (vistas em portais de jornalismo tradicio-

nal), procurando entender a complexidade das disputas simbó-

licas e da construção dos sentidos que têm como pano de fundo

o imaginário tecnocultural contemporâneo. Neste sentido, po-

deríamos dizer que a resistência nos protestos do Brasil se orga-

nizou em duas frentes principais que se inter-relacionam: uma

socioantropológica, operacionalizada pelos milhares de pessoas

que saíram às ruas, e uma sociotécnica, que consistiu na mobili-

zação através da

web

. De um lado, os atores sociais protestaram

com seus corpos ocupando o espaço urbano, portando cartazes

commúltiplas reivindicações, gritando palavras de ordem, orga-

nizando-se em blocos e resistindo à repressão policial. De outro,

milhões de usuários da internet interagiram nas redes de rela-

cionamento, trocaram informações sobre os motivos do protes-

to, produziram materiais de divulgação das ideias em suas pági-

nas pessoais e plataformas de compartilhamento, criando uma

teia midiática alternativa para noticiar os acontecimentos, e gru-

pos de

hackers

atuavam na invasão de sistemas governamentais

e de grandes grupos de comunicação, postando mensagens em

convergência com os protestos das ruas e divulgando informa-

ções sigilosas que fomentaram ainda mais o movimento.

No que tange à dimensão sociotécnica dos protestos,

há indícios das “três formas do agir político nas mídias digitais”

(nos termos de PROULX, 2012) ocorrendo simultaneamente. A