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Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações

para que tais máquinas se tornassem imprescindíveis às organi-

zações industriais.

Flichy (2001) busca a articulação entre o imaginário

e a ação no pensamento de Paul Ricoeur (1997), para quem os

conceitos de utopia e ideologia seriam os dois polos do imaginá-

rio social e da cultura. Segundo Ricoeur (1997), o termo ideo-

logia, no âmbito das teorias marxistas, é geralmente associado

a um processo de deformação, de dissimulação, por parte de

indivíduos ou de grupos, de sua situação diante da realidade.

Da mesma forma, o conceito de utopia geralmente é associado a

uma espécie de sonho social que não levaria em conta elemen-

tos da realidade necessários para verdadeiras transformações. É

considerada como uma atitude esquizofrênica diante da socie-

dade, uma maneira de escapar das lógicas e das ações mediante

construções fora da história e também como forma de proteção

a qualquer verificação por parte de ações concretas. No entanto,

Ricoeur (1997) insiste que a realidade é simbolicamente me-

diada; portanto, não se trata de um dado estático, mas de um

processo no qual se inter-relacionam um polo de estabilidade

(ideologia) e um polo de mudança (utopia). Por ser um dispo-

sitivo constantemente em evolução, o jogo utopia/ideologia se

transforma permanentemente. Neste sentido, Ricoeur propõe

compreender a noção de ideologia e de utopia (constituintes do

imaginário social) em seus aspectos positivos e negativos de ma-

neira construtiva e desconstrutiva, de confirmação e de recusa

da realidade social de uma época.

Ao definir a dinâmica da noção de ideologia e utopia,

Ricoeur (1997) apresenta três níveis conceituais: 1. No primeiro

nível, a ideologia (vida imaginada) aparece como dissimulação

do real em oposição à

práxis

(vida real). A utopia, neste contexto,

seria entendida como fantasmagoria, uma fuga, uma escapatória

da realidade. 2. O segundo nível trata de uma análise política na

qual a ideologia é entendida como o sistema de legitimação da

dominação de um poder instituído e a utopia apareceria como

alternativa a esta dominação, algo que trabalha na contramão,

para acabar com a autoridade deste poder político. 3. No ter-

ceiro nível de sua reflexão, Ricoeur relaciona a noção de ideo-

logia com algo mais positivo na medida em que serviria como

elemento definidor da identidade de um grupo. A conservação