Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
te pelo constante processo de midiatização; 2) tais imaginários
são formados pelos próprios integrantes das diferentes redes;
3) este imaginário pode ser individual ou coletivo; e, por fim, 4)
há um conjunto de regras não ditas, uma espécie de engrenagem
invisível (para além das visíveis), que estruturam as práticas de
construção do “eu digital” no espaço
web
.
O que há de novo em todo esse processo é que o imagi-
nário que surge das práticas entre os amadores reúne, a um só
tempo, aspectos locais e globais, convivendo em certa harmonia
(apesar dos
haters
11
), em uma troca relativamente equilibrada
de informações entre as diferentes partes do mundo.
Les communautes virtuelles reunissent des indivi-
dus installes aux quatre coins de la planete mais qui,
pour une partie d’entre eux, gardent, malgre tout, une
insertion locale. Ils developpent des conversations
aussi riches intellectuellement et emotionnellement
que celles de la vie reelle. C’est un monde d’echanges
equilibres entre egaux
12
(FLICHY, 2001/5, p. 61).
A visão trazida por Flichy é otimista e leva em conta o
cenário da primeira década da
web
,
13
focando no trabalho rea-
lizado pelos amadores, o que era algo novo e central para suas
pesquisas. Isso justifica seu interesse na formação daquilo que
era a emergência de um novo tipo de sociabilidade, em vez de
discutir a relação entre “técnica e amadores”.
Cyberpunk. Esse foi o termo utilizado pela revista
Time
em 1993 para classificar a sociedade que poderia surgir a partir
11 O termo designa os usuários ou perfis digitais que disseminamprioritariamente
mensagens de ódio e contrariedade às postagens de pessoas ou grupos. Embora
se possam perceber estas práticas em todas as matizes políticas, elas tendem a
ser mais numerosas por parte de internautas mais conservadores. O paradoxo,
entretanto, é que esta é, também, uma prática dos amadores na Internet. Eis um
aspecto de sua natureza ambígua e complexa.
12 Tradução nossa: “As comunidades virtuais reúnem pessoas dos quatro cantos
do mundo, mas para parte dessas pessoas, apesar de tudo, mantém-se uma
inserção local. Elas desenvolvem diálogos intelectual e emocionalmente ricos
como os da vida real. É um mundo de trocas equilibradas entre iguais.”
13 Vale lembrar que a rede mundial de computadores ou
world wide web – www
tornou-se global e aberta a todos em 1993, o que tornou possível a comunicação
global a partir de uma linguagem de programação que tinha como base as hiper-
mídias interligadas via conexão de Internet.