Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
to, converge para outro caminho, mais relacionada às tecnicida-
des e às práticas amadoras.
2 Da emergência tecnológica ao “eu digital”
O longo caminho da Internet que separa seu embrião, a
ArpaNet – sigla para
Advanced Research Projects Agency
, que reu-
nia autoridades militares e professores do Instituto Tecnológico
de Massachusetts –, da “www”, de Tim Berners-Lee, representou
uma tremenda revolução na comunicação integrada via compu-
tadores. Na década de 1990, a chamada “internet de superfície”
se consolidou tecnicamente em escala global, sendo que o Brasil
pegou carona no fenômeno com mais intensidade somente a
partir do século XXI, apesar de já haver vários sites brasileiros
na segunda metade dos anos 1990. Na virada do milênio, porém,
apenas cerca de 2,9% da população brasileira, aproximadamen-
te 5 milhões de pessoas, tinha acesso à Internet. Dezesseis anos
depois, como salientamos inicialmente, o número saltou para
mais de 66% da população total, algo em torno de 139 milhões
de usuários. Para muito além da gênese acadêmica e militar do sur-
gimento da Internet, o que nos interessa são as práticas amado-
ras – a “
intelligence collective
”, como diria Flichy – dos usuários da
rede, que inauguraram a era do espaço público comum de escala
global. No âmbito da sociologia, mas tendo como pano de fundo
as interações mediadas por dispositivos tecnológicos de comu-
nicaço, Patrice Flichy considera que as diferentes redes criadas
por grupo sociais conformam um tipo específico de “imaginário
social” composto por quatro características: 1) há um suporte,
uma materialidade (ainda que digital) para estes imaginários, à
medida que eles são, cada vez mais, impressos
10
em nossa men-
10 Tomo aqui a ideia de “impressão” de David Hume no
Tratado da Natureza Hu-
mana
(2009), no sentido de que é algo da ordem do sensível. “As percepções da
mente humana se reduzem a dois gêneros distintos, que chamarei de IMPRES-
SÕES e IDEIAS. A diferença entre estas consiste no grau de força e vividez com
que atingem e penetram em nosso pensamento ou consciência. As percepções
que entram com mais força e violência podem ser chamadas de
impressões
; sob
esse termo incluo todas as nossas sensações, paixões e emoções, em sua primei-
ra aparição à alma. Denomino
ideias
as pálidas imagens dessas impressões no
pensamento e no raciocínio” (HUME, 2009, p. 25).