Table of Contents Table of Contents
Previous Page  167 / 282 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 167 / 282 Next Page
Page Background

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

cificamente às normas institucionais da Igreja e ao clima “ideológi-

co” dominante no interior da instituição, que não oferece espaços

de debate e de tomada da palavra por parte das diversas minorias

religiosas que compõem o catolicismo como um todo, como a co-

munidade LGBT. “A economia digital que assujeita o usuário contri-

buinte lhe oferece, paradoxalmente, meios para resistir” (PROULX;

CHOON, 2011, p. 110, trad. nossa). Essa resistência pode assumir

a forma de “práticas militantes” presentes nas redes sociodigi-

tais, como formas de resistir à vigilância, tanto individual quanto

coletivamente.

Assim, as diversas bricolagens sobre o catolicismo na

economia sócio-tecno-simbólica ocorrem mediante “inume-

ráveis e infinitesimais metamorfoses” (CERTEAU, 2012, 40),

microrresistências constituídas pelas “mil práticas pelas quais

usuários se reapropriam do espaço organizado pelas técnicas

da produção sociocultural” (ibid., p. 41). Como indica Prou-

lx (2012b, p. 1, trad. nossa), manifesta-se, nesses casos, uma

“potência de agir” (

puissance d’agir

), que se expressa como um

saber-resistir à dominação do discurso católico e da Igreja-ins-

tituição mediante a organização de um

empowerment

civil-reli-

gioso, somado a um desejo de existir em um mundo fortemente

conectado. Essa potência de agir se expressa naquilo que chamamos

de

reconexões

, ou seja, conexões “novas”, “ultraconexões” realiza-

das pelos agentes em rede que vão além do já dado em termos

sociais, tecnológicos ou simbólicos sobre o religioso, e nas quais

se manifesta a

reconstrução comunicacional

do “católico”. Tal re-

construção ocorre por meio de ações de confirmação (reiteração),

invenção (negociação) e subversão (oposição), em processos de

circulação comunicacional em rede.

As reconexões permitem partir de algo já dado (a dou-

trina católica, por exemplo) e chegar a algo novo (invenção,

in +

venire

), híbrido, heterogêneo (os construtos católicos). Ou seja,

as reconexões não existem “em si mesmas”, mas são construídas e

mantidas constantemente pela ação social de comunicação. Elas

se expressam como

táticas

dos usuários perante as

estratégias

do dispositivo comunicacional e eclesial, por meio das quais

se revela a capacidade criativa e autônoma dos indivíduos (cf.

CERTEAU, 2012). Demarcam criativa e socialmente uma distân-