Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
mento social pelo fato de que, para os criadores de tais páginas, ele
é “objetivamente” relevante em determinado aspecto (na ação do
papa, na relevânciada suadoutrina, na suadiversauniversalidade).
Nas práticas religiosas em rede, a possibilidade de
di-
zer
o “católico” publicamente, nos ambientes digitais, por parte
dos fiéis comuns, também é uma ação propriamente
teopolítica
de publicização, visibilização, reconhecimento e legitimação de
minorias eclesiais ou de crenças e práticas católicas minoritá-
rias. Mesmo que essas reações ao catolicismo ocorram dentro dos
marcos condicionantes (mas não necessariamente
determinantes
)
da plataforma Facebook e do próprio catolicismo (em páginas que
se definem justamente como “Catecismo da
Igreja Católica
”, “Di-
versidade
Católica
”), surgem, mediante invenções sociais decor-
rentes das interações em rede, usos emancipatórios das redes so-
ciodigitais e práticas religiosas desviantes, como a desconstrução
e a desnaturalização de crenças, práticas e estereótipos veiculados
pelas lógicas católicas dominantes.
Tais ações dos usuários podem ser vistas também como
táticas mais elaboradas de desvio, que podem complicar, ou mes-
mo anular, a eficácia do controle institucional (PROULX; CHOON,
2011). Pois, nessas novas modalidades de tomada da palavra e
de engajamento eclesial por parte do fiel leigo, rompe-se, de cer-
ta forma, o exercício da autoridade tradicional dos “especialis-
tas” religiosos, dando espaço a formas cooperativas de produção
de sentido a partir da proliferação de redes de saberes religio-
sos, criadas e compartilhadas por fiéis leigos comuns (PROULX;
MILLERAND, 2010).
Na interação entre a plataforma tecnológica do Face-
book e as práticas sociorreligiosas desenvolvidas por grupos so-
ciais como o
Diversidade Católica
, por exemplo, emerge um poder
individual e social de crítica pública efetiva sobre um ator social
específico (como a Igreja Católica). Isso permite o desvio e o des-
locamento do curso da reprodução social das relações de poder no
campo religioso católico (PROULX, 2012).
Trata-se de modalidades de
resistência
, ou seja, “a rea-
ção múltipla, diversa, criativa e sempre ativa que os cidadãos, os
usuários, os públicos dão às ofertas tecnológicas [e simbólicas]
que lhes são feitas” (LAULAN, apud JAURÉGUIBERRY; PROULX,
2011, p. 51, trad. nossa). Tais reconstruções buscam resistir espe-