Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
Em sociedades em midiatização, portanto, a reli-
gião – como campo social – e o catolicismo, na sua especificida-
de, são um “resultado efêmero e aleatório de práticas sociais”
(JAURÉGUIBERRY; PROULX, 2011, p. 105, trad. nossa), que ocor-
rem no âmbito das redes digitais. O “católico”, nas interações em
rede, mais do que uma intuição individual, torna-se crença e prá-
tica discutida e debatida socialmente, mediante a constituição de
redes e de relações sociossimbólicas. Cada usuário torna-se um
elemento constituinte e complexificador da pluralidade católica
dispersa na rede, agora detentor de meios acessíveis e públicos
para manifestar e expandir sua capacidade criativa. “Na internet,
o fiel não apenas é coconstrutor de sua fé, mas também realiza um
‘trabalho criativo’
sobre a própria religião
como um todo,
tensio-
nando a ‘interface eclesial’
” (SBARDELOTTO, 2012, p. 307).
Podemos dizer com Cardon (apud JAURÉGUIBERRY;
PROULX, 2011) que o “católico” em rede passa por uma
“ino-
vação ascen nte”
, proveniente não da cúpula eclesial, mas sim
de suas “bases conectadas”, formadas por usuários iniciantes,
contribuintes ou reformadores do “católico”, que propagam suas
invenções sobre o “católico” a redes mais amplas de pessoas me-
diante gestos de cooperação. Assim, os construtos sociais postos
em circulação comunicacional passam por uma complexificação
social, tecnológica e simbólica nos fluxos e nos circuitos de senti-
dos. Em rede, a circulação e as interações sociais que se formam
para dar-lhe movimento tornam-se mais importantes do que a
própria natureza dos bens comunicacionais que são “circulados”
(JAURÉGUIBERRY; PROULX, 2011).
A partir dos desdobramentos da midiatização contem-
porânea, percebe-se, desse modo, a emergência de um novo
sujeito comunicacional, que “apropria-se da linguagem para re-
ferir-se, referir o mundo e referir o seu
socius
” (FAUSTO NETO,
2010, p. 8), o que explicita a dimensão “circular” dos processos
comunicacionais e não meramente transmissional “da emissão à
recepção” ou “depois da recepção” (BRAGA, 2012). Trata-se, an-
tes, de umprocesso simultâneo de gestos de “recepção produtiva”
e de “produção consumidora” (FERREIRA, 2013), como vimos na
relação entre a Igreja-instituição e indivíduos/grupos católicos.
Nesse sentido, a circulação é uma
ação de circular
: de
interagir, de acoplar, de articular, de interpenetrar uma plurali-