Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
numa experiência que se chama Tela Botânica. Isso é uma ex-
periência situada, localizada na França, e que desenvolveu uma
perícia em botânica, que é colocar o conhecimento à disposição,
gratuitamente, de todos aqueles que quiserem se inscrever. Isto
é original; esta é uma característica que, ao mesmo tempo, tem
traços da Wikipédia e da Tela Botânica. A perícia não é somente
a coisa dos especialistas, mas também dos “profanos”, dos ama-
dores. Então, com a Tela Botânica, estamos numa comunidade
onde, ao mesmo tempo, amadores e especialistas desenvolvem
novos saberes em botânica.
Sobre as práticas de resistências, estávamos lendo um
artigo, recentemente, na revista
First Monday
que mostrava as
táticas de versão, no mundo digital. Esse artigo mostrava que
essas táticas de versão eram, até agora, utilizadas somente por
hackers
, por pessoas particularmente competentes em dominar
o código informático, e hoje são utilizadas por um grande núme-
ro de pessoas, com cada vez mais usuários profanos usando es-
sas táticas. Uma dessas táticas é, por exemplo, usar dispositivos
para mandar uma mensagem utilizando outro nome que não o
seu. São táticas usadas por cibercriminosos, mas podemos ver
que existe uma mistura em que essas táticas, que eram
a priori
usadas por
hackers
e criminosos, agora estão sendo difundidas.
O segundo exemplo é o WikiLeaks, com a ideia de pôr à
disposição, de oferecer informações secretas e então desenvol-
ver uma luta a partir dos contribuidores do WikiLeaks, sobre-
tudo Julian Assange. Então, eles desenvolveram uma verdadeira
guerra da informação. E podemos ver que, efetivamente, tor-
nou-se muito importante. As autoridades americanas procuram
e tentam parar e prender Julian. Mas nós achamos que a ideia de
colocar à disposição, de oferecer, sobretudo jornalismo especia-
lizado, informação secreta, de forma a mexer na opinião pública,
é uma forma de prática da resistência ao controle da socieda-
de digital generalizada. Achamos que isso é uma semente que
foi plantada pela experiência WikiLeaks. Vimos, recentemente,
que a informação a respeito dos paraísos fiscais foi superior até
mesmo ao que o WikiLeaks expôs. Estamos numa prática de re-
sistência ao controle da sociedade e da vigilância generalizada.