Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
poderíamos também pensar em que medida essas ferramentas
podem nos ajudar a nos expressar como cidadãos, como pessoas
que têm algo a dizer sobre as decisões da cidade. Portanto, esse
novo espaço digital foi definido por certos analistas como sendo
um novo espaço de liberdade.
Com a web social, temos uma multiplicidade de mi-
croesferas públicas. Microesferas públicas plurais e heterogê-
neas. Isso nos leva a refletir sobre a questão da esfera pública.
O que é uma esfera pública? Em que medida essas pequenas
esferas são públicas ou em que medida a palavra não é necessa-
riamente pública; a palavra que se expressa nessas microesferas
públicas é uma palavra, diríamos, privada e pública, ao mesmo
tempo. É uma palavra semipública ou parapública; nunca sa-
bemos exatamente com quem estamos falando. E, por isso, em
dado momento, certos analistas, pensando nos adolescentes
que se expressam no Facebook, dizem que devemos escrever
no computador, que tudo que dizemos dizemos a não sei quem.
Tudo que se diz se diz a não se sabe quem, a não se sabe quantas
pessoas. Sempre podemos pensar que há rastros que poderão
ser descobertos por um usuário futuro. Observem que há uma
sensibilidade de perceber a existência de todas essas palavras
semipúblicas. Enfim, estamos nos comunicando com amigos no
Facebook, mas os amigos têm também amigos e nunca sabemos
se os nossos amigos vão transmitir a nossa palavra para outros
amigos, e assim por diante, infinitamente.
Para retomar a questão do agir político, com os meios
digitais, pensamos que uma questão interessante foi uma per-
gunta que nos fizemos em relação às revoluções do mundo ára-
be: em que medida a participação midiática pode levar a uma
participação política? Estamos habituados a certa maneira de
desenvolver uma relação, uma experiência midiática com as mí-
dias tradicionais, como a TV. Quando vemos um programa que
mostra toda uma situação que nos convida a nos indignar, mes-
mo assim, ficamos sentados na frente da televisão, diante dessa
mensagem que poderia nos levar a nos indignar. E há toda uma
reflexão em torno disso. O que faz com que passemos a deixar a
sala, deixar a televisão e ir para a rua? Será que as mídias digi-
tais, combinadas com as mídias tradicionais, como no caso do
mundo árabe, na Tunísia, onde reportagens eram transmitidas