Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
contribuidor
, que não seria nem o
homo oeconomicus
nem o
homo doador
; não seria nem um nem outro, mas, ao mesmo tem-
po, ambos. Podemos refletir sobre isso e também voltar ao assun-
to mais adiante, mas a figura do
homo oeconomicus
é uma figura
comum ao mundo dos economistas. E pressupõe que um indiví-
duo seja motivado, em suas ações, por interesses calculados. Do
lado oposto, a figura do
homo doador
pressupõe que o indivíduo
seja regido por uma “lógica do dom”. E, quando se fala em lógica
de doar, a partir dos trabalhos de Marcel Mauss, principalmen-
te, falamos de uma tripla obrigação, ou seja, um saber dar, um
saber receber e também um saber restituir. Esses três elemen-
tos precisam estar presentes no tempo, para que estejamos em
presença do que Marcel Mauss chama de dom, doação. Alguns
antropólogos afirmam que o doador nunca está completamente
separado do objeto dado. Em outras palavras: o doador habita,
até certo ponto, o objeto doado; você recebe alguma coisa e isto
está marcado por aquela pessoa que lhe dá. Vocês, provavelmen-
te, já devem ter vivenciado isso em situações cotidianas. Às ve-
zes, vocês querem colocar no lixo algo que ganharam, mas se
alguém que lhes deu aquilo souber, não vai ficar contente.
2 A contribuição no espaço das redes
Falemos agora da cultura da contribuição no mundo
da internet. O mundo da internet, do qual falamos, é o mundo
da web social, que é a web que designamos, no mundo indus-
trial, como web 2.0. Alguns analistas falam em web participati-
va e outros em web colaborativa. Chamamos isso de web social,
pois assim podemos evitar qualificar a web como participativa,
colaborativa; para nós, é uma web aberta a todas as contribui-
ções, de todos os usuários possíveis. Vamos voltar, então, a uma
definição dessa web social. Algumas características: em primei-
ro lugar, os usuários são considerados como estando no centro
do dispositivo. Queremos dizer que, se compararmos a web, por
exemplo, com as mídias tradicionais, nas quais os usuários estão
mais do lado do público, eles se situam no final do processo. As
mensagens são produzidas pelas grandes máquinas industriais