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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

til. O contribuidor deposita um conteúdo no universo digital e

tira uma satisfação, uma utilidade disso. Isso já é uma definição

que se aproxima da transação mercantil. O que precisamos ob-

servar é que o contribuidor é, ao mesmo tempo, produtor de

conteúdo e fornecedor de dados. Queremos dizer que, quando

alguém comenta num

blog

, ele está produzindo conteúdo, mas,

ao mesmo tempo, traços, vestígios, rastros são deixados; e é nes-

se sentido que esses rastros se tornam dados. Portanto, você não

é apenas produtor de conteúdo, é também fornecedor de dados.

Em outras palavras: você deixa no universo digital um vínculo

entre o seu endereço IP e determinados gestos que você realiza,

como, por exemplo: comentar um

blog

; comprar

online

; indicar

que gosta ou que curtiu. Todas essas informações são captadas

pelas empresas proprietárias da plataforma. O Facebook, por

exemplo, capta todas as contribuições dos usuários. E é esse pro-

cesso de captação dos dados que está na base da produção do

valor econômico, em torno dessa agregação dos dados. Estamos,

então, numa problemática de produção do valor econômico, a

partir de uma agregação de dados, que se originam a partir dos

rastros deixados no universo digital. Deixados pelos usuários. E

é nesse sentido que podemos falar de capitalismo informacio-

nal. Os usuários geram, então, permanentemente, dados que es-

tão na fonte de uma monetarização dos conteúdos, dos dados e,

até mesmo, do laço social. Pois quando se está num

site

de redes

sociais, o próprio laço social se torna fonte de valor econômico

para a empresa. Estamos falando, então, de monetarização, que

quer dizer, na verdade, a transformação desses conteúdos e da-

dos sociais em moeda.

Por outro lado, sobre a contribuição, diríamos que não

estamos mais no lado dos usuários. A contribuição é tida pelos

próprios contribuidores como proveniente de uma lógica da

doação: eu recomendo um determinado restaurante ou livro,

mas, na verdade, não quero retribuição financeira pelo gesto.

Faço isso gratuitamente; então, não estamos mais numa lógica

de trocas sem retribuição financeira, mas recorremos a uma

reciprocidade. Se alguém deixa suas recomendações e mensa-

gens, gostaria que outros também deixassem seus comentários.

Então, inserimo-nos numa lógica de compartilhamento, em que

a questão do reconhecimento simbólico e mais a questão da re-