Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
das práticas sociorreligiosas aponta para novas “maneiras de fa-
zer” do religioso e do “católico” nas interações digitais em rede:
não apenas uma
identidade
oficial católica, mas também novas
articulações de
comunidade
que reconfiguram essa identidade;
não mais apenas uma
autoridade
eclesial oficial, mas também
alteridades
religiosas em conexão que deslocam aquela autori-
dade; não mais apenas uma
heteronomia
que determina e define
a identidade e a prática católicas, mas também a
autonomia
dos
indivíduos, que inovam e inventam sociotecnicamente o “cató-
lico” a partir de “estratégias, técnicas e ações” comunicacionais
(MIÈGE, 2009, p. 155)
2
.
Por outro lado, coloca-se em questão a relação público-
-privado de forma mais complexa. Agora, em rede, os internau-
tas trocam informações privadas e até mesmo íntimas sobre sua
experiência religiosa, que “tornam-se, pela primeira vez, visí-
veis, portanto, exploráveis” (BURGELMAN apud MIÈGE, 2009, p.
85). Na internet, manifesta-se
o encontro de ferramentas e de ummovimento so-
cial profundo, que é feito do questionamento das
instituições [como a Igreja] (e das meta-histórias,
como diziam os pós-modernos), da importância
crescente da informação, do fato de que o conhe-
cimento à disposição de cada um de nós aumenta
constantemente, e da vontade de participar [ou
da necessidade de se sentir em comunidade]. É
um passo, além disso, em direção à sociedade em
redes, na qual as relações indivíduos-grupos são
profundamente modificadas. As associações con-
tammenos do que a conexão (PISANI apud MIÈGE,
2009, p. 85).
2
Sem dúvida, aqui, em termos de plataformas sociodigitais, abordamos mais
utili-
zações
do que propriamente
usos sociais
: aquelas contribuem para a formação e a
cristalização histórica destes. Ou seja, é a “reprodução de utilizações constantes e
recorrentes, integradas na cotidianidade [...] que constituem os usos sociais” (LA-
CROIX et alii, apudMIÈGE, 2009, p. 180). E se diante dos usos sociais as utilizações
pressupõem um curto espaço de tempo, os usos sociais, por sua vez, pressupõem
também um curto espaço de tempo em comparação com as
práticas sociais
: estas
estão situadas em um tempo relativamente longo. Portanto, diante de fenômenos
tão recentes como a internet e as plataformas digitais, “importa traçar os contex-
tos, pelo menos aqueles que são mais relevantes, em torno dos quais se centraliza
a pesquisa sobre as práticas” (MIÈGE, 2009, p. 181).