Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
traorganizacionais, se produz quando uma Tic, ou melhor, um
dispositivo, interpõe-se entre Eu e Você, Eu e Nós, Nós e Nós”. Ou
seja, as “modificações dos próprios atos de comunicação”, tam-
bém em âmbito religioso.
Contudo, em nossa pesquisa, interessamo-nos por um
fenômeno que ocorre a partir de uma
sociotecnicidade
específi-
ca da contemporaneidade, a saber, as plataformas sociodigitais,
que manifestam de forma bastante evidente a relação sociotéc-
nica no que tange à midiatização. Por isso, é relevante, antes de
nos debruçarmos especificamente sobre nosso objeto, refletir, a
partir das contribuições do autor, sobre o conceito de técnica e
de digital. Miège (2009) se recusa a analisar a técnica como uma
instância exterior à sociedade. Para o autor, é preciso analisar
“os desenvolvimentos técnicos através de suas determinações
sociais [...] e das lógicas sociais da comunicação”, que se mani-
festam como
processo
, ou seja, como “movimento da sociedade
bem identificado, em curso, feito de mutações e mudanças di-
versas, e em torno do qual, em longo prazo, se afrontam e se con-
frontam as estratégias dos atores sociais envolvidos” (MIÈGE,
2009, p. 18). Ou seja, “a esfera técnica também é feita de social”,
e aí se manifesta uma “dupla mediação”, que “é ao mesmo tem-
po técnica, pois a ferramenta utilizada estrutura a prática, mas
a mediação é também social, porque os motivos, as formas de
uso e o sentido atribuído à prática se alimentam no corpo social”
(JOUËT apud MIÈGE, 2009, p. 46).
Segundo o autor, é importante perceber como essa dupla
mediação – técnica e social –
se articula
, sem pensar que o social
é determinado pela, depende da ou se adapta à técnica. Em vez
de determinismo, Miège (2009, p. 21) prefere falar em “enraiza-
mento social” de algumas “determinações técnicas”.
Para o autor, “todo dispositivo técnico modifica numa
certa medida a comunidade, e institui uma função que torna
possível o advento de outros dispositivos técnicos” (MIÈGE,
2009, p. 45). Portanto, ocorreria uma “tecnicização da ação”
(JOUËT apud MIÈGE, 2009, p. 47), que se manifesta, em nosso
caso de estudo, também na construção e vivência do “religio-
so” em rede. As práticas e processos religiosos, dessa forma,
também passam a operar mediante novos modos de fazer, es-