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Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo

Para o autor, surge um novo tipo de indivíduo: o

pro-am

, pro-

fissional-amador, que desenvolve suas atividades amadoras (ou

profanas/leigas, no caso religioso) segundo os padrões profis-

sionais (ou sagrados/religiosos).

Afirma Flichy (2010, p. 8, tradução nossa): “Hoje, graças

à ‘inteligência coletiva’ fornecida pela rede, um simples amador

[profano/leigo] pode mobilizar conhecimentos idênticos aos do

especialista [sagrado/religioso]”, como no caso dos administra-

dores da página

Catecismo da Igreja Católica

no Facebook: ago-

ra, um católico (ou até não católico) “qualquer” pode responder

como instância máxima da jurisdição eclesial junto aos inter-

nautas em rede, conectando-se também com competências re-

ligiosas de nível comunicacional de diversos outros internautas.

Manifesta-se nesses casos a “invenção do religioso” por

parte do internauta comum, que atua sobre os saberes e “de-

senvolve práticas refratárias e originais, bricolagens que podem

desembocar em descobertas” (FLICHY, 2010, p. 10, tradução

nossa). O amador, portanto, chega a uma “expertise ordinária”

mediante sua aquisição pela experiência e prática cotidianas.

“Suas atividades não dependem da constrição de um trabalho

ou de uma instituição, mas sim de sua escolha. Ele é guiado pela

curiosidade, pela emoção, pela paixão, pela adesão a práticas

muitas vezes compartilhadas com os outros” (FLICHY, 2010, p.

12, tradução nossa). Se a sua expertise vem da experiência, ele

alarga o campo das práticas sociais para além das práticas legíti-

mas: “À produção racional, ele pode opor a bricolagem; à razão,

a emoção” (FLICHY, 2010, p. 14, tradução nossa).

Mas isso não significa o abandono ou o desaparecimento

das categorias do especialista e do profissional, muito menos da

mediação eclesial, no caso religioso: as competências comunica-

cionais adquiridas por um simples internauta católico lhe per-

mitem “dialogar com os especialistas [canônicos e também com

os demais internautas] ou mesmo contradizê-los desenvolven-

do contraespecialidades” (FLICHY, 2010, p. 9, tradução nossa),

emergindo como verdadeiro “leigo-amador” (SBARDELOTTO,

2016a). Este pode “tomar distância face à autoridade ou ao es-

pecialista; pode enfim coproduzir o texto” (FLICHY, 2010, p. 16,

tradução nossa) e o “católico”, sem substituir o mediador tradi-

cional. Ele simplesmente “ocupa o espaço livre entre o profano