Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
mento da informação – comunicação; o resultado é
uma confusão como se se atribuísse à técnica mais
do que ela pode provocar (MIÈGE, 2009, p. 45).
Podemos traçar um paralelo entre a crítica de Miège
e algumas de nossas constatações no decorrer da pesquisa. Se
partíssemos de uma perspectiva tecnodeterminista, não consi-
deraríamos as características comunitárias preexistentes ao de-
senvolvimento de comunidades na internet: os laços de perten-
cimento e a existência de regras e papéis são alguns dos elemen-
tos que não foram inaugurados com a digitalização, configuran-
do pistas sobre as formas de relacionar-se coletivamente a partir
de interesses comuns. Além disso, embora os sites e plataformas
sejam concebidos com postulados de uso, eles não limitam com-
pletamente as possibilidades de quem interage nesses espaços.
Há apropriações inesperadas, que fogem ao que foi idealizado
inicialmente, e isso pode ser percebido, inclusive, nas atualiza-
ções constantes da interface da rede social, das regras impostas
(e, por vezes, subvertidas) aos membros, das ferramentas embu-
tidas na plataforma, que podem surgir após problemas e expe-
riências negativas dos adeptos do CS. Quando o CS POA surgiu,
para reunir
couchsurfers
vinculados a Porto Alegre, não estava
previsto que o grupo ganhasse contornos de uma comunidade,
nem que suas interações digitais se expandissem para além das
fronteiras do próprio site do CS, ganhando um espaço importan-
te de trocas no site do
Facebook.
Miège também chama atenção para o fato de que a “va-
lorização permanente do mundo da técnica” é acompanhada da
“impotência relativa da crítica para fazer frente” a esse pensa-
mento (MIÈGE, 2009, p. 27), além de apontar (e criticar) o estu-
do das TICs a partir de posturas extremas: “O papel da técnica
causa problemas no vasto setor da informação – comunicação:
ou ela é essencializada e tida como a única origemdas mudanças,
mutações e inovações, ou – mais raramente – ela é dissimulada
e até ignorada” (MIÈGE, 2009, p. 25). A técnica, sozinha, desvin-
culada de apropriações, não implica mudança social, inovação.
Ao mesmo tempo, não há como desconsiderar que a técnica per-
passa ações e formas de olhar/ experienciar o mundo, como nas
conexões e práticas partilhadas no âmbito do
Couchsurfing
.