Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
identidade digital, como podem possuir outros cadastros e mu-
dar a qualquer momento.
No espaço público, ao contrário, quem se exprime se
engaja. Como observa Dominique Cardon a propósito dos blogs
políticos
29
, há uma responsabilidade do enunciador. No espaço
público contemporâneo, o indivíduo toma a fala em seu próprio
nome. Se é um indivíduo comum pertencente a uma organiza-
ção, ele põe em curto-circuito os porta-vozes. Se é um profis-
sional, fala em seu próprio nome e não pela sua instituição ou
seu jornal. Esse debate público pode tomar diferentes formas.
Identifico aí três delas: o blog público, o discurso polêmico e a
deliberação. Os blogs mais conhecidos, aqueles dos jornalistas ou
dos blogueiros famosos, correspondem a uma nova forma de ex-
pressão: o blog público, discurso estabelecido na primeira pes-
soa. Enquanto que o jornalista tradicional emprega seu tempo
na coleta de informação, na verificação, no tratamento dos fatos
tão objetivamente quanto possível, o blogueiro se exprime com
urgência e na primeira pessoa. Ele não compromete seu jornal,
mas a si mesmo. Não pretende mais ser o profissional-especia-
lista de uma questão, mas aquele que reage “ardentemente”, ex-
primindo uma verdade relativa. Seu papel é menos de produzir
uma informação que de propor um ponto de vista, de organizar
a conversação com os internautas, de lançar a discussão. Ele é,
muitas vezes, menos sábio que seus interlocutores, mas é ca-
paz de colocá-los em conexão. Ele produz textos, mas organiza
também os comentários que estimula
30
. Por fim, o blog público é
uma rede de pontos de vista privados.
Nos comentários que acompanham os blogs, como nos
outros ambientes de discussão cidadã
online
, o modo de inter-
venção é resolutamente
polêmico
. Frequentemente desqualifi-
cam-se essas discussões polêmicas que não correspondem às
regras tradicionais da argumentação nem aos cânones do espa-
ço público teorizado por Habermas; mas elas são legítimas para
reabilitar o conflito como forma de argumentação política. Se a
29 CARDON, Dominique; DELAUNAY-TETEREL, Hélène.
op. cit.
30 Para uma análise mais detalhada, ver SULLIVAN, Andrew. Why I Blog.
The At-
lantic
, nov. 2008.