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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

coletar várias informações, mas especialmente pode encontrar

conselhos, requisitar ajudar, debater com semelhantes, ser ava-

liado, aprender pela prática. Esses mecanismos de autodidatismo

sãomais relevantes que o avanço na formação escolar desde meio

século. No entanto, esses saberes, que se desenvolveram numa

lógica da paixão, são fragmentados. O amador contemporâneo

dispõe, por outro lado, de ferramentas informatizadas bastante

próximas daquelas dos profissionais. No seu PC executam-se ló-

gicas de tratamento de texto, de criação musical ou de edição de

imagem que lhe permitem realizar um trabalho de boa qualidade.

Desse modo, sua produção pode ser incorporada em plataformas

onde se encontra lado a lado com a dos profissionais.

Enfim, a sociedade dos amadores é uma

sociedade mais

democrática

. É uma sociedade na qual se considera que cada in-

divíduo possui alguma competência e que esses elementos po-

dem ser associados através dos dispositivos cooperativos. Por

outro lado, os indivíduos não recorrem cegamente aos profis-

sionais-especialistas, que são os críticos, os engenheiros e os

acadêmicos. Nas áreas nas quais construiu suas competências, o

amador pode excepcionalmente substituir o especialista, mas a

ele importa sobretudo formar sua opinião e defendê-la. Ele pode

acessar uma infinidade de informações que antes eram desco-

nhecidas: graças a elas, torna-se capaz de elaborar um discurso

crítico, de avaliar a posição do profissional-especialista em re-

lação à sua experiência ou a suas próprias práticas. Ele adquire,

assim, os meios e a confiança que lhe permitem se posicionar

com relação ao profissional, interrogá-lo, observá-lo e mesmo

contestá-lo ao sustentar um argumento baseado em suas opi-

niões. O amador faz o profissional-especialista descer de seu

pedestal, impede que este monopolize os debates públicos. O

amador utiliza seu talento ou competência como um instrumen-

to de poder. Finalmente, ele contribui para a democratização de

algumas práticas, como o discurso crítico que o acompanha. O

amador exige que os criadores e produtores atentem a seu pú-

blico, que os acadêmicos considerem outros cenários, que os

professores integrem melhor o ponto de vista do aluno, que os

médicos tratem de modo distinto os seus pacientes.

Apesar de suas imperfeições, a sociedade dos amado-

res é uma sociedade na qual um grande número de indivíduos