Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
Primeiramente, o amadorismo se inscreve no movi-
mento de individualização contemporânea. Ele reflete a vontade
do indivíduo de
construir sua identidade
, de favorecer seu desen-
volvimento pessoal, de aprimorar-se em atividades de seu inte-
resse, de agir em busca de seu prazer. O indivíduo pode encon-
trar aí as satisfações que nem sempre as atividades profissionais
contemplam. Sua busca identitária o faz expressar seus talentos,
extravasar sua singularidade diante de outros. A elaboração de
sua identidade digital lhe permite tanto se distinguir quanto ser
reconhecido e estabelecer ligações. Mas o amador não é absolu-
tamente indiferente às gratificações simbólicas (por exemplo, o
orgulho e a fama) que pode obter de sua atividade.
Graças à Internet, o amador pode facilmente recorrer
aos recursos cognitivos de que necessita para exercer suas ati-
vidades. Ele pode também se voltar sobre si e confrontar outros
modos de dizer e de fazer. O internauta dispõe, como qualquer
trabalhador intelectual, de um comentário diversificado sobre
sua atividade tão logo ela é submetida
online
. Ele recebe encora-
jamento, críticas, correções, sobretudo se sua atividade se insere
num trabalho coletivo. Se sua produção corresponde a uma pla-
taforma de blogs ou um site de compartilhamento, ele dispõe de
uma variedade de dados sobre os “visitantes” que se interessam
pela sua produção.
A ascensão ao poder dos amadores se inscreve também
num
movimento de difusão e extensão dos saberes e das compe-
tências
. O amador se distingue do indivíduo comum pelo impor-
tante esforço de aprendizado e de formação que faz. A
expertise
que acumula é essencial na sua ligação a uma prática qualquer.
Os novos saberes que ele adquire envolvem múltiplos domínios
da cultura, das ciências e das técnicas. Seus conhecimentos não
se limitam aos campos legítimos, mas acionam setores e áreas
excluídas das instituições escolares: cultura popular, saberes
práticos, bricolagem técnica.
O amador tem acesso a esses saberes através de novas
formas de aprendizagem que raramente têm lugar na escola ou
na formação continuada, mas que correspondem acima de tudo a
um autoaprendizado: inscrevem-se numquadro de estruturas as-
sociativas ou, mais recentemente, na sequência das novas tecno-
logias digitais, principalmente a Internet. Na web, o amador pode