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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

políticas em um site ou blog; 5% participou em um fórum de

discussão política

33

.

A Internet assume, assim, um papel na atividade polí-

tica. Mais profundamente, ela se inscreve numa transformação

da ação política dos cidadãos. Com efeito, a crise da democracia

representativa, muitas vezes evocada, é acompanhada de um de-

clínio das grandes organizações políticas. Observa-se, segundo a

expressão de Jacques Ion, “o fimdos militantes”

34

. Não que a ação

política dos indivíduos tenha cessado, mas ela toma outra for-

ma. Não é mais tão regular quanto antes, estruturada por gran-

des organizações partidárias. As redes políticas que, nos anos

1950 ou 1960, substituíram as grandes organizações verticais

são hoje mobilizadas pela iniciativa de indivíduos que defendem

uma causa precisa, de modo intenso e por um período de tem-

po limitado. Tem-se, assim, a transição de um “engajamento por

filiação”, no interior de uma determinada organização, para um

“engajamento alforriado”

35

. O

nós

minúsculo que unifica indiví-

duos singulares, motivados pela dimensão pessoal de sua ação,

foi substituído pelo

Nós

que reúne atores anônimos e lhes impõe

um modo de visibilidade particular (aquele da classe operária,

por exemplo). A fala individual é substituída pela fala coletiva

expressa pelos porta-vozes devidamente nomeados.

Jacques Ion observa ainda uma outra modalidade de

“engajamento alforriado”: o fato da ação política ou cidadã não

necessitar mais da presença simultânea dos militantes. A Anis-

tia Internacional constitui um bom exemplo de organização que

funciona sem a presença física, ao utilizar ao máximo o correio e

o e-mail. Nessas novas organizações, os membros não possuem

necessariamente uma identidade coletiva e podem ser recruta-

dos antes de tudo por suas competências individuais específicas

(conhecimento técnico, jurídico, experiência midiática, etc.). Há

meio século, a identidade política poderia estruturar a identida-

33 JOUGLA, Pierre. Les usages politiques d’Internet. In: TNS Sofres.

L’État de l’opi-

nion

. Paris  Seuil, 2010. Note-se que os resultados franceses são bastante pró-

ximos dos resultados estadunidenses (SMITH, Aaron. Civic Engagement Online:

Politics as Usual. Pew Internet & American Life Project, Sept. 2009).

34 ION, Jacques.

La Fin des militants.

Paris, Éditions de l’Atelier, 1997.

35 ION, Jacques (org.).

L’Engagement au pluriel

. Saint-Étienne: Publications de

l’université de Saint-Étienne, 2001.