Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
de individual, mas hoje o engajamento é limitado à própria ação.
O indivíduo investe na luta uma de suas próprias facetas. Con-
trariamente ao militante tradicional, ele não é mais ligado a uma
única organização; pode se engajar numa pluralidade de causas
às quais se associa em função de seus interesses pessoais e sua
identidade; pode se articular assim em diferentes redes. Encon-
tramos aí um fenômeno que já observamos em outras atividades
amadoras, que são simultaneamente intensas e limitadas.
Podemos acreditar que esses engajamentos plurais e
cidadãos em ações atomizadas acarretem uma supervalorização
da dimensão local; parece haver, ao contrário, uma pedagogia
da reflexão local, que estimula os atores a “extrapolar os pro-
blemas” ao passar do específico ao geral. Essas novas formas de
engajamento político, mais distantes e limitadas, independentes
das instituições, apoiam-se nas redes construídas pelos próprios
atores. Por envolverem diretamente o cidadão, elas encontram
na Internet uma ferramenta eficaz que permite se coordenar, se-
guir a temporalidade de um movimento social e uma militância
em rede. O ativismo eletrônico é bem adaptado a essas novas
formas de engajamento. Ele permite monitorar a ação dos po-
deres públicos e das empresas (por exemplo, na área de riscos à
saúde e ao meio ambiente), denunciar suas ações, fornecer um
sentido aos fenômenos sociais e, finalmente, expressar uma opi-
nião minoritária diante de outros cidadãos.
Essa nova ação política se inscreve na “contrademocra-
cia” estudada por Pierre Rosanvallon, que percebeu na Internet
“um espaço generalizado de cuidado e avaliação do mundo”
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.
Em relação à ação política dos amadores, a contrademocracia
toma, no entanto, formas um pouco diferentes. Ao lado dos dois
exemplos de cuidado e denúncia, pode-se ver surgir outros: o da
construção de sentido e da convicção.
Esses modos de engajamento amador permitem passar
de um espaço êxtimo, onde cada um expressa simplesmente sua
opinião, a um espaço público onde se manifestam e se coadunam
opiniões coletivas. A primeira tarefa é uma atividade de monito-
ramento, de coleta de informações. Essa coleta pode compreen-
36 ROSANVALLON, Pierre.
La Contre-démocratie:
La politique à l’âge de la dé-
fiance. Paris: Seuil, 2006, p. 75.