Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
da África, onde atuava como pastor, e fundou, no Brasil, a sua
própria igreja, a Mundial Igreja do Poder de Deus. No país, as
exigências de constituição burocrática são bem simples; o de-
safiador é fazer dela um grande empreendimento, que vai exi-
gir destes amadores outras práticas. Porém, ao mesmo tempo
que são exigidos, possuem a liberdade de inventar, o que não
é permitido em algumas religiões tradicionais. Como as igrejas
neopentecostais são novas e nascidas dentro de lógicas midiáti-
cas, para elas quase tudo é permitido. Sobre a situação, Hjarvard
(2014) afirma o seguinte:
Pelo processo de midiatização, os meios de comu-
nicação influenciam e transformam diversos ele-
mentos da religião, incluindo sua autoridade como
instituição, o conteúdo simbólico de suas narra-
tivas, bem como a fé e as práticas religiosas. Uma
teoria que se proponha a explicar a interação entre
religião e mídia deverá considerá-las em seus devi-
dos contextos culturais e históricos, visto que a mi-
diatização da religião não constitui um fenômeno
histórico, cultural ou geograficamente universal.
Valdemiro explora o seu amadorismo justificando que
não é “letrado”, como um advogado ou um médico. Ele afirma
que não possui estudo, projetando, em seus fiéis, uma figura de
um vencedor, pregador acessível, de fácil compreensão e larga
emotividade. Suas táticas interacionais e comunicacionais vão
desde abraçar seus fiéis “pestilentos”, “fedidos”, “maltrapilhos”
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até chorar por longo tempo com eles, afirmando que sabe bem
o que eles estão passando: fome, escárnio, dependência quími-
ca, preconceitos. Essa aproximação por similaridade, que torna
fácil a compreensão da dor alheia, desemboca na emotividade,
registrada e divulgada por todos os meios disponíveis, o que
amplia a circulação de seus feitos. Durante nossa permanência
na Mundial Igreja do Poder de Deus, como observadores parti-
cipantes, pudemos constatar que lá tudo é realizado amadoristi-
camente, a começar pela administração da igreja.
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Não estamos colocando aqui nenhum juízo de valor depreciativo; estes são
termos escolhidos com base na estigmatização das pessoas que frequentam a
igreja.