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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

Valdemiro proclamou-se apóstolo. Logo que fundou

sua igreja, promoveu sua esposa, Franciléia (que, nos tempos da

IURD, fora obreira junto com ele), ao cargo de bispa. Igualmente

fez isso com os cunhados. Suas filhas viraram pastoras, uma tor-

nando-se apresentadora da TV Mundial e a outra, cantora gos-

pel, ambas amadoras.

Questionamos: para os fiéis, é importante pertencer a

uma igreja cujos saberes teológicos e religiosos estariam sendo

estimulados, por meio dos pastores, a aprender a fim de se tor-

narem eruditos? A erudição é necessária na Mundial? A resposta

é não. Conversamos com inúmeros fiéis, em sua grande maioria

de nível escolar primário e analfabetos funcionais, e verificamos

que, para eles, o importante é receber, da igreja e de seu funda-

dor, o milagre. Disso é possível inferir que a igreja passa aos seus

fiéis a ideia de que ela consegue resolver problemas referentes

a vários campos do saber. Dessa forma, a igreja ignora a ciência

médica, alegando que Jesus é o maior dos médicos, e afirma que

as curas são realizadas por meio de milagres, obtendo sucessos

que nem mesmo os médicos, segundo eles, sabem explicar. No

campo jurídico acontece o mesmo. A igreja ensina que a justiça

funciona quando a própria igreja intervém espiritualmente no

contencioso, “destrancando” o processo no fórum, obtendo re-

sultado rápido e positivo na ação. No campo da economia, a igre-

ja em questão explica o alçamento da prosperidade das pessoas

apenas por meio da crença religiosa, ignorando qualquer teoria

de administração, creditando, assim, à igreja o sucesso financei-

ro e patrimonial do fiel que prospera. Tudo isso é amplamente

divulgado nos cultos e aplaudido pelos frequentadores.

Na realidade, é por meio da fé que a igreja estimula e

realiza, concomitantemente, um percurso autônomo de aquisi-

ção de competências, ensinando aos seus frequentadores uma

pedagogia simples de inclusão religiosa e social. Não há grandes

exigências intelectuais; o único requisito é possuir fé. Ao longo

da frequência e exposição dentro da igreja, o fiel acaba adquirin-

do sua própria autonomia, descobrindo seus talentos e investin-

do numa forma de melhorar sua qualidade de vida. Desse modo,

os amadores iniciantes aprendem com os amadores experientes,

os quais se tornam “espelhos”, pois aquele que está ali ensinan-

do é uma prova viva da vitória, na figura assumida de um ex-dro-