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Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações

gado, ex-presidiário, etc. Pudemos comprovar essas variáveis

quando assistíamos aos cultos nessas igrejas neopentecostais.

Tudo na Igreja Mundial é amador. Trata-se de uma igreja

que não está vinculada a um discurso de tradição. Quando apre-

senta seu culto na TV Mundial, Valdemiro o faz de maneira ama-

dora, da forma que ele julga melhor. Apostando na sua falta de co-

nhecimentos das técnicas televisivas, ele apela para a imitação dos

apresentadores da televisão comercial “profana”, assumindo uma

postura de apresentador de programa de auditório, porém pelo

viés religioso. Por meio dessa tática, ele se aproveita de elementos

culturais comuns, no caso, a Bíblia, e a transforma num discur-

so de pregação particular. Já com larga experiência adquirida ao

longo de seu caminho no discurso midiático religioso, dispensa a

necessidade de ser um especialista em religião, filosofia, teologia,

etc., acomodando-se na desculpa de que “Deus o está usando”, que

ele não é ninguém, está apenas fazendo o que lhe é pedido.

Não foi ainda criada uma igreja neopentecostal alicer-

çada somente na pregação pura do Evangelho, que ensine so-

mente religião, com direcionamento transcendental. Será que,

sem a apropriação do “conhecimento privado religioso” pelos

pastores neopentecostais, ela cresceria? Talvez não, pois esta-

ria fora do contexto que a caracteriza da forma como conceitua-

mos uma igreja neopentecostal, passando principalmente pelas

competências midiáticas. Além disso, por que fazer o que as

chamadas igrejas clássicas já fazem há muito tempo? Nas igre-

jas neopentecostais, não basta somente o conhecimento religio-

so; estes pastores devem apresentar competências também em

áreas correlatas, que exigem deles uma performance, mesmo

que amadora, necessária para se destacar.

Dessa forma, essas igrejas transformam-se em em-

preendimentos particulares, pois, quando nos referimos a

elas, atrelamos seu nome ao de seu fundador: a “Mundial de

Valdemiro”, a “IURD de Edir Macedo”, ou a “Graça de R. R. Soares”.

Os nomes são percebidos comomarcas, semo propósito de iden-

tificar ideologicamente um fiel, como foi no cristianismo primiti-

vo com relação ao símbolo do peixe

6

e, mais tarde, com o símbolo

6

“O peixe que representa Jesus Cristo, conforme um acróstico da palavra grega

que significa

ikhthys,

cujas letras correspondem às iniciais de

Iesous Khristos tou

Theou Hyos Sot r =

Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador” (DUÉ, 1999, p. 29).