Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
Uma situação instigante é a forma como alguns líde-
res religiosos neopentecostais fazem uso da religião nos dias
atuais, apropriando-se de um discurso fundador tradicional,
no caso o da Igreja Luterana, que também acaba por se subdi-
vidir, transformando-se em religiões particulares. Esse fenô-
meno aconteceu de forma mais explícita no início do século
passado, nos Estados Unidos, com o surgimento do empreen-
dedor midiático, que percebeu na sociedade dos meios uma
oportunidade de aliar negócios à formação das denominadas
igrejas neopentecostais, alicerçadas na plenitude das compe-
tências amadoras de seus pastores.
2 A era do rádio
Na década de 1920, Aimee MacPherson criou
sua igreja particular, a Igreja do Evangelho Quadrangular.
Possuidora de um talento comunicacional e interacional no
âmbito da religião, identificou, nas ondas do rádio, uma opor-
tunidade de criar sua religião como empreendimento particu-
lar e fez desse então recente meio de comunicação social uma
forma de enviar suas mensagens religiosas para uma enorme
massa de ouvintes. Com sua perspicácia, construiu um tem-
plo-estúdio com duas enormes antenas. Esta foi a primeira
igreja americana a possuir uma emissora de rádio em Los
Angeles, sob o prefixo KFSG.
Como primeira pastora a fundar uma igreja e a pre-
gar (antes prática reservada somente aos homens), ela trans-
formou costumes, quebrando diversas normas sociais, inspi-
rando a emancipação da mulher na sociedade americana da
época. Personificando seus discursos, dirigiu carros, propôs o
uso de roupas despojadas para as mulheres e levou uma vida
firmada na participação social. Aimee explorou todas as pos-
sibilidades que a mídia de seu tempo proporcionava, embora
fosse uma amadora, sem formação teológica. Seu mérito era
perceber a demanda social da época, ofertando técnicas no-
vas de convencimento religioso através das ondas do rádio.