Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
na criação do livro uma oportunidade de divulgar uma Bíblia de
compreensão acessível, escrita na língua alemã, fundou sua ins-
tituição, rompendo com o
establishment
católico romano com a
apresentação de suas 95 teses
2
.
Dessa forma, constatamos que saber fazer uso da co-
municação para divulgar uma ideia religiosa não é algo recente.
Lá no começo da civilização, quando as religiões começaram a se
estruturar para serem praticadas por grupos sociais, a divulga-
ção se iniciou com os fiéis e seguidores, de boca em boca, para,
mais tarde, assimilar os novos dispositivos de mediação que sur-
gem, tais como a escrita na argila (sumérios), na pedra e em pa-
piro (egípcios). Posteriormente, o papel passou a dominar como
suporte, até chegarem hoje às telas dos dispositivos midiáticos,
tais como
tablets
, celulares, computadores, etc.
O mesmo podemos dizer em relação ao amadorismo,
que existe há muito tempo. Nesse contexto, cabe questionarmos
quais são as competências atuais necessárias para obter resul-
tados bem-sucedidos numa investida religiosa particular. Muito
se fala da falta de ética de alguns pastores ao fundar uma igreja e
dela obter riquezas para si; porém, Max Weber (1987) percebeu
que a ética social, dentro de uma sociedade capitalista ampara-
da pela religião luterana em suas diversas dissidências, não era
motivo de escândalo, tornando-se “habitual” fazer uso de seus
poderes pessoais ou de suas posses materiais:
E, na verdade, esta ideia peculiar do dever profis-
sional tão familiar a nós hoje, mas, na realidade,
tão pouco evidente, é a mais característica da “éti-
ca social” da cultura capitalista, e, em certo senti-
do, sua base fundamental. É uma obrigação que o
indivíduo deve sentir e que realmente sente, com
relação ao conteúdo de sua atividade profissional,
não importando no que ela consiste, e particular-
mente, se ela aflora com uma utilização de seus
poderes pessoais ou apenas de suas possessões
materiais (como “capital”) (WEBER, 1987).
2
Ao combater o poder e a eficácia das indulgências praticadas pela Igreja Cató-
lica Apostólica Romana, Martin Luther, no dia 31 de outubro de 1517, fixou na
porta da igreja do castelo de Wittenberg as 95 teses que esclareciam o valor
destas (LUTERANOS, 2017).