Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
Flichy, que abriu novos horizontes teóricos para compreender o
fenômeno em questão.
Criar uma religião particular e, posteriormente, ser
seguido através dela não é uma prática recente. Se analisarmos
os registros históricos das grandes fundações religiosas, vamos
encontrar sempre um avatar que, por meio de seu próprio nome,
constitui sua ideologia filosófico-religiosa, influenciando e
transformando culturas e sociedades, arregimentando milhares
de seguidores. Moisés recebeu, gravados em uma pedra, os dez
mandamentos nos quais se fundam a legislação e os fundamen-
tos religiosos para orientar seguidores retirantes no deserto.
Jesus Cristo, por intermédio da oralidade, divulgava uma nova
doutrina, mas nunca escreveu nada sobre seus ensinamentos.
Somente após a sua morte, alguns de seus apóstolos fizeram os
registros em evangelhos e outros se lançaram na estrada, pro-
pagando e divulgando suas doutrinas. Com Buda, aconteceu a
mesma coisa: após narrar seu nirvana aos seus cinco discípulos,
sua filosofia espalhou-se imediatamente.
Caberia aqui elencar dezenas de líderes religiosos
que fundaram religiões e filosofias, porém nosso objetivo nes-
te estudo é abordar as diferenças que separam os fundadores
religiosos atuais dos fundadores do passado, principalmente os
neopentecostais brasileiros. Esta pesquisa não visa realizar um
trabalho de comparação, mas entender até onde a questão do
amadorismo interfere no empreendimento religioso como um
todo, incluindo os estudos bíblicos, os interacionais e os admi-
nistrativos-financeiros, pois as igrejas neopentecostais não são
puramente a pregação da palavra de Deus; há muito mais com-
petências que devem ser levadas em conta. O que percebemos,
até este momento, é que as grandes religiões não foram funda-
das por doutores com percurso acadêmico, mas por pessoas
simples concentradas em algum objetivo transcendental.
Mais tarde, após contestar a hegemonia católica no fi-
nal da Idade Média, alguns dissidentes lançaram-se a questionar
as religiões estabelecidas, propondo reformas com o intuito de
alterar o que não consideravam certo, embora sem serem fun-
dadores originais. É o caso de Martinho Lutero, um profissional,
especialista, doutor, proveniente da academia, que foi monge e
professor de Teologia. Percebendo na invenção da imprensa e