

Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
produção da informação. Podemos considerar que tal iniciativa
sugere uma alternativa à organização do trabalho jornalístico,
propondo mudanças no fluxo midiático, diminuindo o controle
das organizações sobre o trabalho dos indivíduos, ao servir-se
do discurso de que todo cidadão pode produzir conteúdo de for-
ma independente.
E, de formamais radical, os ciberataques doAnonymous
às instituições políticas e às organizações foram tomados como
símbolos da investida contra as ideologias políticas em voga.
Os discursos do grupo postulam genericamente, como metas, a
construção de uma cultura da participação global, a promoção
da liberdade de expressão e a busca por um mundo mais justo.
Sendo assim, podemos considerar que, apesar de conter carac-
terísticas de uma “utopia fantasmática”, esta forma do agir polí-
tico atua com pretensões a uma “ideologia legitimante”.
Nesta perspectiva, as duas frentes (socioantropológica
e sociotécnica) atuaram de maneira imbricada, sendo a princi-
pal característica comum a busca por um fortalecimento através
da resistência anônima de cidadãos comuns (conforme Flichy, o
cidadão político na era digital, em sua maioria, tem sua identida-
de mascarada, disfarçada), seja no rosto coberto adotado pelos
ativistas da tática Black Bloc, seja pela máscara do personagem
Guy Fawkes (do HQ e do filme
V de Vingança
, 2008), que tornou-
-se símbolo do Anonymous em todo mundo e apareceu de forma
muito expressiva nas manifestações de rua e em imagens que
circularam na
web
.
A busca utópica dos manifestantes pela multiplicida-
de não poderia se traduzir em rostos de líderes, a exemplo de
experiências políticas passadas, pois estes se tornam hegemô-
nicos (ideológicos) assim que assumem uma imagem de poder.
E, neste sentido, o
hacker
emergiu no imaginário tecnocultural
como arquétipo de um novo sujeito político que, em sua clan-
destinidade ética, dissemina a cultura da participação através da
socialização dos códigos informáticos.
Desenvolvemos esta proposição com base na adesão de
boa parte dos manifestantes na
web
e nas ruas à máscara que
representa simbolicamente o Anonymous. Os diversos grupos,
desde blogueiros e ciberativistas, passando pelos Black Blocs,
até os jovens que compareceram às manifestações urbanas pací-