Table of Contents Table of Contents
Previous Page  197 / 284 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 197 / 284 Next Page
Page Background

Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

produção da informação. Podemos considerar que tal iniciativa

sugere uma alternativa à organização do trabalho jornalístico,

propondo mudanças no fluxo midiático, diminuindo o controle

das organizações sobre o trabalho dos indivíduos, ao servir-se

do discurso de que todo cidadão pode produzir conteúdo de for-

ma independente.

E, de formamais radical, os ciberataques doAnonymous

às instituições políticas e às organizações foram tomados como

símbolos da investida contra as ideologias políticas em voga.

Os discursos do grupo postulam genericamente, como metas, a

construção de uma cultura da participação global, a promoção

da liberdade de expressão e a busca por um mundo mais justo.

Sendo assim, podemos considerar que, apesar de conter carac-

terísticas de uma “utopia fantasmática”, esta forma do agir polí-

tico atua com pretensões a uma “ideologia legitimante”.

Nesta perspectiva, as duas frentes (socioantropológica

e sociotécnica) atuaram de maneira imbricada, sendo a princi-

pal característica comum a busca por um fortalecimento através

da resistência anônima de cidadãos comuns (conforme Flichy, o

cidadão político na era digital, em sua maioria, tem sua identida-

de mascarada, disfarçada), seja no rosto coberto adotado pelos

ativistas da tática Black Bloc, seja pela máscara do personagem

Guy Fawkes (do HQ e do filme

V de Vingança

, 2008), que tornou-

-se símbolo do Anonymous em todo mundo e apareceu de forma

muito expressiva nas manifestações de rua e em imagens que

circularam na

web

.

A busca utópica dos manifestantes pela multiplicida-

de não poderia se traduzir em rostos de líderes, a exemplo de

experiências políticas passadas, pois estes se tornam hegemô-

nicos (ideológicos) assim que assumem uma imagem de poder.

E, neste sentido, o

hacker

emergiu no imaginário tecnocultural

como arquétipo de um novo sujeito político que, em sua clan-

destinidade ética, dissemina a cultura da participação através da

socialização dos códigos informáticos.

Desenvolvemos esta proposição com base na adesão de

boa parte dos manifestantes na

web

e nas ruas à máscara que

representa simbolicamente o Anonymous. Os diversos grupos,

desde blogueiros e ciberativistas, passando pelos Black Blocs,

até os jovens que compareceram às manifestações urbanas pací-