Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
amadores do saber, mas também naqueles da produção amado-
ra de conhecimento, que pode se desenvolver em oposição aos
profissionais-especialistas ou em cooperação com eles.
No âmbito das suas paixões-hobby, o amador pode
desafiar as grandes classificações sociais. Se o autor “ilegítimo”
penetra num território que
a priori
não é o seu, observa-se me-
nos uma revolução onde o “homem sem qualidades” substitui o
profissional-especialista que um reencontro de práticas sociais
diversas que não têm sempre a mesma legitimidade e, apesar
disso, coexistem e se entremeiam. Se o amador se torna espe-
cialista por experiência, ele amplia também o campo das práti-
cas sociais além das práticas legítimas: a arte, os conhecimentos
científicos abstratos. À produção racional ele pode opor a brico-
lagem; à razão, a emoção.
Ademais, as práticas amadoras não precisaram da era
digital para se desenvolver: elas acompanham o movimento de
industrialização e de profissionalização da segunda metade do
século XIX. Entretanto, há meio século, o crescimento da autono-
mia individual e o cruzamento das atividades profissionais com
as atividades privadas têm sido acompanhados por uma ferra-
menta maior: a informática. De um lado, as tecnologias digitais
têm sido marcadas profundamente pelos comportamentos de
autonomia individual e em torno do “conectar-se”. De outro, elas
têm fornecido as ferramentas essenciais ao desenvolvimento
dessas novas práticas sociais.
A informática tornou-se a principal ferramenta cogniti-
va de nossa sociedade. Computadores pessoais e Internet são as
ferramentas universais de trabalho e de lazer que permitem al-
ternar entre práticas associadas ao escritório e ao lar. O compu-
tador pessoal oferece capacidades consideráveis de tratamento
e de armazenamento de informação. Quanto à Internet, ela ofe-
rece vastas possibilidades de troca e cooperação. Esse novo do-
mínio informatizado, que atravessa também todas as atividades
sociais, aparenta ser tão essencial que a uma pergunta sobre o
saber que perderiam se fossem privados do computador pesso-
al, 14% dos indivíduos responderam: “tudo”
6
. A web e as má-
6
DONNAT, Olivier.
Pratiques culturelles et usages d’Internet
. Ministério da
Cultura e da Comunicação – DEPS, Culture-Études, 2007.